David Cronenberg não é para qualquer um. O cineasta canadense que começou a carreira com filmes de horror cheios de gosmas e vísceras é hoje um dos nomes mais respeitados no cinema internacional, considerado um intelectual e um autor – até por quem não gosta de seus filmes.
Para ajudar você a entender melhor o trabalho desse diretor e ter um olhar mais atento aos próximos lançamentos, selecionamos sete longas essenciais. Confira:
Videodrome (1983)
A crítica à hipocrisia da cultura pop é um dos temas favoritos de Cronenberg, que o discute a fundo em “Mapas Para As Estrelas”, mas faz sua análise mais agressiva em “Videodrome”.
No filme de 1983, o dono de uma emissora de TV intercepta o sinal de um programa estrangeiro, que mostra pessoas sendo torturadas e mortas numa pequena sala vermelha. Convencido de que as ações são encenadas e de que esse reality show sangrento é o futuro do entretenimento, ele decide retransmitir o programa.
Aos poucos, a relação do homem com a tecnologia vai se transformando em algo mais orgânico e revestido de sentido filosófico, misturando realidade e fantasia como em muitos outros filmes que virão depois.
A Mosca (The Fly, 1986)
Maior clássico da filmografia do diretor, “A Mosca” é a segunda (e mais bem sucedida) adaptação do conto de George Langelaan. No filme, Jeff Goldblum interpreta um cientista que trabalha numa máquina de teletransporte e, ao testar pessoalmente o projeto, acaba entrando na câmara junto com uma mosca. Progressivamente, ele tem seu corpo transformado numa mistura bizarra de humano e inseto.
O filme traz um pouco do horror grotesco dos primeiros trabalhos de Cronenberg, mas também dialoga com a frieza de obras mais recentes ao mostrar um personagem que encara de forma distante e científica uma situação pessoal e desesperadora. A fantasia ainda serve de instrumento para discutir questões polêmicas, como o preconceito, a AIDS e o aborto.
Gêmeos – Mórbida Semelhança (Dead Ringers, 1988)
Baseado numa história real, o filme traz Jeremy Irons como dois irmãos gêmeos, ginecologistas, que trocam de lugar e manipulam suas clientes como bem entendem. Ao contrário dos filmes mais “viscerais” do diretor, este prefere a elegância e a sugestão do poder da medicina como instrumentos de horror.
O longa é uma lembrança de que, além de artista incompreendido e provocador, Cronenberg é também um grande contador de histórias, especialmente se elas envolvem suspense, tragédias e altas doses de alucinógenos.
Mistérios e Paixões (Naked Lunch, 1991)
Houve quem dissesse que o romance de William Burroughs era “infilmável”. Bem, não foi para Cronenberg. O diretor reuniu partes de diferentes escritos do artista norte-americano e os misturou com sua história real, dando luz a uma biografia ficcional enlouquecida.
O filme pode não ter sido um sucesso de público ou de crítica, mas é um “must” para quem quer entender um pouco melhor o processo criativo do cineasta - que consegue transformar praticamente qualquer história num thriller psicológico.
Crash – estranhos prazeres (Crash, 1996)
Falando em adaptações improváveis, só mesmo Cronenberg para conseguir traduzir para a tela a história de pessoas que usam acidentes de carro como afrodisíaco. O filme (bem diferente de seu xará que venceu o Oscar) explora os limites do bizarro para discutir libido, violência e cultura pop, temas que já apareceram em “Videodrome” e retornarão em diversos outros títulos na filmografia do diretor.
EXistenZ (1999)
Tecnologia e entretenimento são temas recorrentes na obra de Cronenberg, em parte porque servem como ponte entre realidade e ficção, em parte porque permitem a satisfação virtual de impulsos reprimidos na vida em sociedade.
Em “Existenz”, dois jogadores precisam mergulhar num jogo (que funciona por meio de um sugestivo cordão umbilical) para testar se ele está danificado ou não. À medida que se envolvem na aventura, os protagonistas começam a confundir realidade e fantasia e suas ações se tornam cada vez menos responsáveis.
Cosmópolis (2012)
Cronenberg não é exatamente um diretor de unanimidades, mas “Cosmópolis” é provavelmente seu caso mais extremo de amor e ódio. Protagonizado por um Robert Pattinson ainda mais inexpressivo do que o comum (porque o personagem pede), o filme acompanha um economista milionário numa jornada rumo à sua destruição (e metaforicamente à do capitalismo financeiro) dentro de uma limusine.
O diretor, mais uma vez, aborda um tema atual (a crise econômica) por meio de um suspense cheio de sexo, violência e twists psicológicos, e consegue manter um olhar relativamente gélido sobre situações perturbadoras.
Por Juliana Varella
Atualizado em 10 Mar 2015.