2015 foi o ano da diversidade no cinema – tanto de gênero e cor, quanto de temas. Quem dominou as rodas de conversa e as bilheterias nos últimos doze meses não foram apenas blockbusters com jornadas heroicas, mas filmes que dialogaram diretamente com o público, ou que remeteram a um passado cheio de nostalgia.
Neste ano, “Vingadores: Era de Ultron” foi um sucesso, mas não um sucesso do tamanho de “Os Vingadores”. Da mesma forma, “Jogos Vorazes: A Esperança – O Final” foi bem, mas não tão bem quanto os outros filmes da franquia. Enquanto isso, “Mad Max: Estrada da Fúria” e “Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros” estouraram, conquistando público e crítica. O que estes fizeram de tão diferente?
Primeiramente, apostaram em histórias simples, mas bem contadas, apelando para um tempo em que o cinema era mais sincero. Em segundo lugar, retomaram franquias há muito tempo esquecidas, ganhando força com a distância de seus precursores.
Quem também tentou retomar uma franquia, mas não conseguiu, foi “O Exterminador do Futuro: Gênesis” – que errou feio ao não respeitar o próprio legado, ao contrário de “Velozes e Furiosos 7”, que explorou a própria tragédia com sensibilidade.
Outra sequência que acertou em 2015 foi “Missão: Impossível – Nação Secreta”. A série evoluiu bem com o tempo e chegou ao quinto episódio com uma personagem feminina forte, um vilão convincente e algumas piscadelas bem sacadas ao próprio universo. No outro extremo, veio “007 Contra Spectre”, involuindo para um formato antiquado, com um protagonista mais caricato do que nos últimos filmes.
Franquias à parte, uma tendência que apareceu com força em 2015 (e que, com certeza, deverá marcar a disputa pelo Oscar 2016) foi o feminismo. Boas atrizes foram presenteadas com grandes personagens em filmes de diferentes gêneros – de Charlize Theron em “Mad Max: Estrada da Fúria” e Emily Blunt em “Sicario: Terra de Ninguém” a Melissa McCarthy em “A Espiã Que Sabia de Menos” e Amy Schumer em “Descompensada”. Até mesmo a principal animação do ano, “Divertida Mente”, da Pixar, trouxe uma protagonista feminina, numa história focada em duas de suas emoções, também representadas por mulheres.
O que fez este ano tão bom para elas no cinema não foi apenas o espaço que tiveram, mas sim o fato de que, na maioria, suas histórias não foram exclusivamente sobre a condição feminina (com exceção de “As Sufragistas”, que mostrou o movimento feminista no início do século XX). Em geral, foram histórias universais, com as quais homens e mulheres puderam se identificar.
Assim como mulheres ganharam força, também negros e latinos vieram com tudo em 2015. Uma das maiores surpresas nas bilheterias americanas, por exemplo, foi o sucesso de “Straight Outta Compton”, biografia do grupo de rap N.W.A. que teve a quinta maior estreia da História para o mês de agosto. “Quarto de Guerra”, filme evangélico com protagonistas afrodescendentes, também teve bons resultados por lá, apesar de passar despercebido pelo Brasil. Entre as animações, “Cada Um Na Sua Casa”, da DreamWorks, também apostou numa heroína negra, com tipo físico diferente do padrão, sem fazer disso seu tema principal.
Quem também ganhou histórias fortes este ano foram os personagens LGBT, explorados em romances como “Carol” e dramas como “A Garota Dinamarquesa”, “Meu Nome é Ray” e “Freeheld”. Infelizmente, estes só estreiam no Brasil em 2016.
A prova máxima de que o cinema está se abrindo para a diversidade (inserindo esses atores e atrizes em histórias comuns, em bons papéis, e não apenas em filmes sobre preconceito ou com personagens estereotipados) é que o maior lançamento do ano, “Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força”, tem um homem negro e uma mulher branca como protagonistas, além de uma mulher entre os principais vilões, um homem latino e uma mulher negra entre os coadjuvantes. Se na Terra existe uma variedade de tipos, afinal, que dirá na galáxia?
Para o Brasil, o ano também trouxe variedade – no caso, de estilos. “Que Horas Ela Volta?”, indicado brasileiro ao Oscar 2016, falou sobre a condição das empregadas domésticas em São Paulo com humor, mas também se destacaram filmes como “Entre Abelhas”, um drama fantástico; “Califórnia”, um romance adolescente; “Tudo Que Aprendemos Juntos”, um drama musical; e “Ponte Aérea”, uma comédia romântica. Co-produções, como “Zoom”, mostrado na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, são tendência.
Fora do cinema, chamou a atenção o crescimento da marca Netflix, que agora se coloca como produtora de filmes e tenta competir de igual para igual com os estúdios tradicionais. “Beasts of No Nation, sua primeira investida no mercado, foi um sucesso de crítica, e podemos esperar muito mais para o ano que vem. “O Tigre e O Dragão: Sword of Destiny” e “War Machine” são alguns dos títulos prometidos.
A chegada de uma concorrência forte ao modelo dos cinemas - o streaming - fez com que as redes também se diversificassem, oferecendo outras mordomias aos clientes ou realizando exibições de filmes fora do cardápio comum de lançamentos, como clássicos e episódios de séries de TV. O público é quem sai ganhando com a competição.
2015 mostrou que o modelo tradicional de cinema, focado em personagens masculinos, jovens e brancos, com histórias batidas sobre os mesmos heróis com lançamentos exclusivamente nas salas, sob ingressos caros, não supre mais as necessidades do público. É preciso arriscar e abrir os olhos, como já está começando a acontecer. Que venha 2016.
Por Juliana Varella
Atualizado em 16 Dez 2015.