Estreia no dia 18 de maio um filme que tem a intenção de quebrar barreiras para o terror nacional. “O Rastro”, de J.C. Feyer, aposta suas fichas numa fotografia estilosa, atuações naturais e um roteiro inspirado diretamente nos clássicos americanos para conquistar um público ainda pouco acostumado a ver o gênero no Brasil.
O filme conta a história de um médico responsável pela transferência de um grupo de pacientes de um hospital desativado para um novo leito. Durante o processo, uma paciente desaparece e ele decide investigar. Confira 3 pontos positivos e 3 pontos negativos do filme e saiba se esta estreia é para você:
3 Motivos para ver
1. Jump scares
Se você gosta de filmes de terror que fazem saltar da cadeira com a tradicional combinação “gesto brusco + som metálico gritante”, este é o seu filme. Preocupado em criar momentos de tensão, o longa busca inspiração em títulos como “O Iluminado”, “Babadook” e “Os Outros”.
2. Crítica social
Para adaptar o formato americano de terror à realidade brasileira, o filme explora uma situação típica do país: a precariedade do sistema de saúde e o sucateamento dos hospitais. A história gira em torno de um hospital antigo que está prestes a ser desativado, por conta do seu estado impróprio e por outras razões políticas. O longa ainda aproveita o cenário aquecido das manifestações populares e coloca em cena um protesto contra a desativação, que acaba dificultando a transferência dos pacientes (e permitindo que uma delas desapareça misteriosamente).
3. Viradas surpreendentes
O filme tem seus problemas, mas ninguém pode dizer que ele é previsível. Um dos motivos é porque ele transita entre um gênero e outro, começando como um terror sobrenatural clássico e evoluindo para um drama político e social (um pouco) mais pé-no-chão, com toques de suspense policial.
3 motivos para fugir
1. Pontas soltas
Filmes de terror tendem a levantar muitas perguntas e omitir algumas respostas, mas, neste caso, o público sai do cinema com a sensação de que alguns eventos ficaram, simplesmente, mal explicados. Certos personagens, por exemplo, adotam posturas radicais ao final do filme, mas suas motivações jamais são exploradas, enquanto o que de fato aconteceu com a garotinha na noite da transferência, ou por que só ela assombra o local (quando diversos pacientes tiveram o mesmo destino), são coisas que permanecem sem resposta.
2. Desenvolvimento de personagens
Ou melhor, a falta dele. João (personagem de Rafael Cardoso) está prestes a se tornar pai e seu primeiro contato com a menina desaparecida parece despertar algum sentimento em relação a isso. Mas o que ele realmente pensa jamais é mostrado – não sabemos se ele se sente inseguro, se tem medo, se tem dúvidas, se tinha desejado ou não essa criança e se tem algum plano para o futuro. Nada disso é levado em conta no desenrolar do seu arco, que se resume à obsessão pela garota e pelo hospital. O mesmo acontece com praticamente todos os personagens apresentados: temos um esboço de contexto para cada um deles, mas nenhum é realmente enraizado a ponto de compreendermos o que pensam ou sentem.
3. Falta de ritmo
O maior pecado de “O Rastro” provavelmente será este, pois é o fator que tende a afastar mais o público. O filme, apesar de criar uma atmosfera, aplicar sustos e ter grandes viradas de roteiro, não consegue manter um ritmo envolvente. Em alguns momentos, a audiência se pegará distraída, olhando para os cantos da sala ou para o celular e, em outros, poderá até se irritar com a lentidão de certas cenas. A sensação é de que não há nada, realmente, acontecendo ali, até meados do terceiro ato - e, aí, já é tarde demais para se recuperar um público desinteressado.
Por Juliana Varella
Atualizado em 8 Mai 2017.