Em 2006, Zack Snyder mostrou ao cinema como o visual saturado das graphic novels poderia ser lucrativo e lançou tendência com "300". De uma hora para a outra, toda conversa que envolvesse cinema passaria a incluir uma opinião sobre a “fotografia” do filme, com a propriedade de um júri técnico. Oito anos depois, é claro, a moda passou – mas há quem ainda tente conquistar o espectador apenas pelos olhos.
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Noam Murro substituiu Snyder na direção de “300: a Ascensão do Império”, que chega aos cinemas no dia 7 de março. A cópia chega em sessões 3D que abusam do efeito “sangue nos óculos” e sequências em câmera lenta que farão bocejar o mais forte dos guerreiros – como se Murro quisesse mostrar todos os detalhes de seu trabalho.
Baseada, também, nos quadrinhos de Frank Miller, a sequência faz referências ao antecessor, com cenas de Leônidas (Gerard Butler) e de seu exército espartano, mas se passa do outro lado da península. Agora, é o comandante ateniense Themistokles (Sullivan Stapleton) que reúne seus soldados - esses, meros fazendeiros democráticos - contra os navios de Xerxes.
A situação é semelhante: em desvantagem, o general tenta ganhar tempo com estratégias criativas, mas não tem número suficiente para vencer - a não ser que o exército de Esparta se junte a ele.
Do outro lado, quem comanda a marinha persa é Artemísia (Eva Green), uma guerreira que ajudou Xerxes a se tornar “deus-rei” apenas para ganhar sua vingança contra a Grécia. Rodrigo Santoro volta a vestir os (poucos) adornos de Xerxes e, mais uma vez, tem uma participação quase sem falas. O verdadeiro vilão é Artemísia.
Com um homem de um lado e uma mulher do outro, o desenvolvimento da guerra é bastante previsível e beira o absurdo. O que deveria ser uma luta de territórios torna-se uma mera briga de egos – com milhares caindo aos mares antes que seus comandantes se deem por vencidos.
É normal que um filme de guerra privilegie certos valores ligados à virilidade: aqui, a relação entre pai e filho é a mais forte, e é simbólico que o primeiro a cair seja sempre o pai – assim se mantém vivo o sonho da vida eterna por meio da morte gloriosa. Isso deve soar épico o suficiente para atrair rios de adolescentes às sessões de sexta-feira à noite.
Há quem se iluda pensando que a presença de uma antagonista feminina faça do filme um centésimo menos musculoso e suado. O que Eva Green faz, na verdade, é um desserviço às mulheres: mesmo com um exército de dez mil sob seu comando, apela à sexualidade como arma (como ela mesma fez em “Sombras da Noite”, de Tim Burton) e delega a outros homens a missão de comandar seus navios na guerra.
É curioso pensar que os roteiristas tentaram justificar suas ações com um passado traumático. O histórico desta vilã, afinal, é quase idêntico ao do herói de “Pompeia”, que estreou há poucas semanas nos cinemas.
No caso dela, a vingança deixa de ser heroica porque seu inimigo é a Grécia – região que aprendemos a gostar graças a Leônidas, mas não a Themistokles, um líder egocêntrico e sem laços. Torcemos, na verdade, pelo fantasma espartano e por sua viúva (Lena Headey), única esperança real de todo aquele povo.
No fim, são os bravos 300, mortos desde 2006, que nos fazem resistir na cadeira até o final do filme. Quanto à “Ascensão do Império”, em si, seria melhor se nunca tivesse existido.
Assista se você:
- Gostou (muito) de “300”
- Gosta de filmes de guerra
- Gosta de efeitos visuais em 3D e câmera lenta
Não assista se você:
- Não gosta de filmes de guerra
- Não gosta de efeitos visuais excessivos
- Procura um filme que passe no teste de Bechdel
Por Juliana Varella
Atualizado em 9 Mar 2014.