Uma das melhores sensações que se pode ter no cinema é a surpresa. Seja por um final inesperado, por um momento impactante ou, melhor ainda, pela descoberta de um filme obscuro e pouco divulgado que se revela uma verdadeira pérola.
“A Família Bélier”, longa francês de Eric Lartigau que estreia no Brasil neste Natal, é um desses filmes que te pegam despreparado e, sem qualquer aviso, te fazem chorar como uma criança. Não porque seja um filme triste ou trágico, nada disso: é a beleza de sua história que enxágua os olhos.
Paula Bélier é uma adolescente bastante ocupada: ela mora numa fazenda e, todos os dias, ajuda os pais com os bezerros antes de pegar um longo trajeto até a escola. Depois, ajuda na venda de queijos na feira. Paula é a única falante numa família de surdos e, por isso, tem o trabalho extra de traduzir toda a comunicação dos pais para o restante da comunidade.
Um dia, para ficar mais perto de um garoto, Paula se candidata ao coral da escola e, lá, descobre que tem talento para a música. Convidada a participar de um concurso para estudar canto em Paris, ela começa a ensaiar às escondidas, na casa do exigente professor Thomasson (Eric Elmosnino).
O filme não narra apenas uma história de conquistas, mas debruça-se sobre o que é ser adolescente, descobrir a si mesmo e conquistar a independência dos pais. Paula é uma garota relativamente extrovertida, mas com baixa auto-estima, que veste roupas largas, vive de ombros curvados e ainda guarda alguns laços com a infância. A música, para ela, será a afirmação de uma beleza até então oculta, de um potencial que ela pode desenvolver sozinha, longe de sua família.
A independência vem para os dois lados, já que, com a filha falante, os pais e o irmão se acostumaram a ter uma intérprete em todos os momentos. Além disso, a descoberta da voz significará para a mãe, em especial, o confronto com o mundo não-surdo e a necessidade de quebra de um preconceito que ela sempre nutriu, inclusive contra a filha.
“A Família Bélier” é uma história doce sobre família, música e liberdade, que tem um pouco a ensinar a todos os públicos, sem apelações nem preconceitos. Dê uma chance.
Por Juliana Varella
Atualizado em 13 Ago 2015.