Há certas coisas que nunca mudam em filmes de terror: gritos, espíritos e alguns litros de sangue falso são os ingredientes básicos. Seitas satânicas, personagens céticos e garotas de pijamas são igualmente populares. Títulos genéricos, então, são a cereja do bolo, como “A Marca do Medo”.
Originalidade pode não ser o forte do gênero, mas isso não justifica que se costurem peças avulsas e sustos mecânicos numa colcha de clichês e que se coloque o resultado no mercado. O novo filme da Hammer (produtora famosa nos anos 60 por filmes de monstros, como Frankenstein, que vem se reerguendo com adaptações e remakes como “Deixe-me Entrar”), peca pelo excesso em todos os sentidos: personagens caricatos, figurino exagerado, gritos gratuitos, informações que se perdem num roteiro incoerente.
Jared Harris interpreta Joseph, um professor universitário que estuda psicopatologias e tem uma fixação por fantasmas – ou por provar que eles não existem, mesmo que seus argumentos se resumam a teimosias nada científicas. Durante uma aula, ele propõe que seus alunos o acompanhem num experimento: eles se trancarão por algumas semanas com uma menina que se crê possuída e tentarão curá-la.
A proposta em si só fica clara algum tempo depois, já que a edição, afobada, tenta chegar logo às vias de fato – em questão de segundos, somos levados da universidade à casa onde os estudantes serão aterrorizados e onde uma sucessão de exorcismos disfarçados de psiquiatria serão praticados.
Quem piscar ou se atrasar na fila da pipoca perderá todo o pano de fundo: quem são aquelas pessoas? Por que aceitaram perder o trimestre em seus cursos para acompanhar aquele professor? Qual é o objetivo do experimento? A verdade é que mesmo quem ficar para ver não encontrará respostas satisfatórias.
O protagonista é Bryan (Sam Clafin, de “Jogos Vorazes 2”), encarregado de filmar o projeto. Tudo indica que ele será o religioso no meio dos cientistas racionais, mas isso não se confirma: os argumentos mais lógicos acabam partindo dele, que é o único a ver a garota como um ser humano e questionar os métodos do professor.
A história se passa nos anos 70 – com direito a camisas xadrez e calças de cintura alta. O visual retrô é o ponto alto da produção, com destaque para as cenas em que vemos o filme pela câmera de Bryan, quando as cores ficam mais quentes e a tela, menor e quadrada. É uma pena que esse cuidado se perca nos momentos finais.
Outra integrante do grupo é Krissi, uma inglesa com roupas de boneca e postura de francesa que afirma ter se candidatado como experimento (dando a entender que também teria algo de sobrenatural), mas isso é logo esquecido. Completa o time o engenheiro Harry, que nunca ganha seu momento e se torna um acessório dispensável.
O objeto de estudo é Jane (Olivia Cooke, arrasando nos gritos e nos olhares penetrantes), uma jovem órfã que vem pulando de família em família e sendo rejeitada por todas devido aos seus “ataques”. Ela descreve uma criatura chamada Evey (trocadilho mais do que batido com “evil”), que se parece com uma boneca e passa a pregar peças no grupo, brincando com fogo e revelando aos poucos os elementos de seu passado.
Bonecas, fogo, um passado que precisa ser desvendado, você já viu tudo isso. Veja de novo ou repense seu programa de sábado à noite.
Assista se você:
- Gosta de filmes de terror pelos sustos
- Não se importa com a história em filmes de terror
- Quer conferir o visual setentista da produção
Não assista se você:
- Gosta de filmes de terror com histórias bem amarradas
- Prefere suspense ao terror gratuito
- Não gosta de filmes de terror
Por Juliana Varella
Atualizado em 11 Jul 2014.