Temos a mania de achar que queremos que todos os filmes tenham um final feliz - mas não queremos, de verdade. Ver uma história em que tudo (absolutamente tudo) acontece conforme o previsto, e em que tudo dá certo no final, pode ser tão decepcionante quanto ver seu personagem favorito morrer lá pela metade do filme. Histórias, afinal, são feitas para provocar emoções, não evitá-las.
“À Procura”, de Atom Egoyan, estreia em novembro no Brasil e faz parte da programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro. O filme foi indicado à Palma de Ouro este ano, o que levanta suspeitas sobre o critério de seleção desses festivais – afinal, há pouca coisa que separe este trabalho de qualquer outra aventura escalada para a Sessão da Tarde.
Ryan Reynolds é o protagonista, Matthew, um pai que perde a filha ao parar na estrada para lhe comprar uma torta. Não há mistério sobre o paradeiro da menina – nós a vemos em cativeiro, morando com um homem que se excita ao ouvir suas histórias.
A trama é contada em pedaços, saltando do presente para o passado e de um personagem a outro propositalmente sem ordem. O truque, porém, não é suficiente para enganar o espectador, que em pouco tempo monta o quebra-cabeças, sem lacunas. Se sabemos o que aconteceu, então resta descobrir como a polícia descobrirá, ou não, esses fatos.
A situação de Matthew é agravada pela postura de sua esposa (Mireille Enos), que passa a evitá-lo, e do agente Jeffrey (Scott Speedman), que desconfia dele. Já a agente Nicole (Rosario Dawson) tenta apoiá-lo, mas age mais como psicóloga do que como investigadora. Sua equipe, ficamos sabendo, é especialista em pornografia infantil na internet e acha que o caso pode estar conectado a uma grande rede de criminosos.
A lentidão da polícia é tanta que, oito anos depois, ninguém tem pistas do paradeiro da menina. Matthew passa pela mesma estrada todos os dias, conferindo panfletos e esperando que ela simplesmente apareça. Enquanto isso, a menina planeja sozinha seu resgate.
Muitos caminhos poderiam ser escolhidos pelo diretor e roteirista a partir desse cenário, mas ele escolhe o mais fácil. Consequentemente, o menos interessante. Algumas pistas aqui, outras dicas ali e todo o suspense criado nos primeiros minutos desmorona como um passe de mágica.
Até o último minuto, ficamos esperando por uma ponta solta – um detalhe que mudará todo o sentido daquela procura, um personagem que não era exatamente quem imaginávamos. Quando os créditos começam a subir, porém, a sensação é de que fomos traídos, prometidos uma surpresa que nunca veio. Sabemos, então, que a felicidade não está no final feliz.
Assista se você:
- Gosta dos filmes de Atom Egoyan
- Quer ver um filme de suspense, mesmo que não seja marcante
- Gosta de filmes que brincam com o tempo para contar a história
Não assista se você:
- Espera ser surpreendido no final
- Não gostou dos outros filmes de Atom Egoyan
- Quer ver um filme diferente
Por Juliana Varella
Atualizado em 7 Dez 2014.