Os historiadores e estudiosos do século XX costumam afirmar que um dos maiores erros estratégicos de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial foi subestimar o poder soviético ao quebrar o Pacto de Molotov-Ribbentrop (tratado de não-agressão entre a União Soviética e a Alemanha nazista) e invadir o território russo (em 1941), que na época estava sob liderança de Josef Stalin. A URSS deu início, então, à sua ofensiva contra o nazismo.
“A Queda: As Últimas Horas de Hitler” (Alemanha, 2004), filme escrito por Bernd Eichinger e baseado na obra de Joachim Fest, narra os dias em que o líder nazista e seus subordinados ficaram escondidos em um local subterrâneo de Berlim, durante abril de 1945, época em que a cidade já estava tomada - quase que em sua totalidade - pelos soviéticos. Sob a perspectiva de Traudl Junge, a secretária particular de Hitler, o espectador é guiado para uma angustiante e sangrenta história.
O longa tem início (e fim) com um depoimento de Traudl, que afirma estar arrependida por ter se aliado ao nazismo. Contratada em 1942 pelo próprio Führer, ela participou de todos os momentos da queda de Hitler: a instabilidade inicial por perceber que a guerra estava perdida, a recusa em sair de Berlim e a decisão de se suicidar junto a Eva Braun, sua esposa - com quem, inclusive, ele se casa durante seus últimos dias no refúgio.
A principal demonstração da força do nazismo, ainda que essa não seja a temática abordada pelo filme, surge em dois tipos de cenas: aquelas em que crianças alemãs decidem lutar contra os soviéticos (algumas, inclusive, conseguem destruir tanques de guerra), e as que retratam soldados da SS se recusando a aceitar rendição aos socialistas, mesmo após a morte de Hitler.
É interessante notar a fidelidade dos alemães ao seu líder, apesar de esse mesmo Führer afirmar que seu povo é fraco e que, diante de uma guerra perdida, não importa que pereça. “Em uma guerra como esta, não existem civis”. Cidades, vilarejos, estradas, indústrias - tudo deveria ser destruído pelos próprios nazistas antes que o Exército Vermelho o fizesse.
O filme também mostra, ainda que com pouca intensidade, o lado pessoal de Hitler: era carinhoso com a secretária, com Eva e até com os filhos de Goebbels, seu leal ministro (e nomeado chanceler pelo testamento do Führer, horas antes de o líder nazista cometer suicídio).
Os momentos que mais tocam o espectador envolvem essas crianças, vítimas de um sistema infinitamente mais poderoso do que elas. Hitler e Eva também sucumbem ao inferno que ajudaram a criar, cuidando apenas para que seus corpos não sejam encontrados pelos soviéticos.
“A Queda” deve ser assistido por todos que se interessam por História. É um filme triste, verossímil e bem produzido. Triste por retratar tantas mortes de civis e a indiferença do líder nazista em relação ao seu povo, que tanto o adorava. E triste por mostrar que a queda de Hitler foi apenas um dos vários episódios violentos do desumano século XX.
Por Marina Ayub, aluna do 2º Semestre do curso De jornalismo da ESPM
Atualizado em 3 Abr 2014.