O público adora histórias de superação. Pelo menos, foi isso que os produtores de “Apenas Uma Chance” pensaram quando decidiram levar às telas a história de Paul Potts – vencedor da primeira temporada do reality show musical Britain’s Got Talent. Potts era aquele candidato em quem ninguém acreditava por estar fora dos padrões físicos e profissionais de quem costuma fazer sucesso na televisão. Isso, duas temporadas antes de Susan Boyle.
Quem interpreta o simpático e azarado cantor de ópera é James Corden, que em breve estará em cartaz, também, como coadjuvante na comédia romântica “Mesmo se Nada Der Certo”. Para o deleite do público, nas cenas de cantoria Corden tem sua voz substituída pelo timbre adocicado do verdadeiro Potts. Nas demais, ele assume a personalidade tímida e gentil com uma atuação sincera.
O título é emprestado do primeiro álbum do artista, mas causa certo estranhamento depois de alguns minutos de filme: isso porque Potts ganha muito mais do que uma chance para provar seu valor (e essa é justamente a graça do roteiro). Uma vez após a outra, ele sofre algum acidente ou tem algum imprevisto que o impede de prosseguir.
A história de Potts é graciosa, mas soa genérica e não chega a emocionar. Quando criança, ele é perseguido pelos colegas por seu peso e seu gosto pela música. O bullying continua por toda a juventude, minando o que poderia restar de auto-estima no então funcionário (depois gerente) de uma humilde loja de celulares. As críticas constantes do pai não ajudam e ele mal consegue juntar forças para perseguir seu sonho.
O destino do garoto começa a mudar quando seu melhor amigo (Mackenzie Crook) arranja um encontro entre ele e sua namorada virtual, Julz (Alexandra Roach, que nem parece ter incorporado a jovem Margaret Thatcher em “A Dama de Ferro”). Com olhos azuis e um sorriso acolhedor, Alexandra traz à obra o otimismo de um filme “feel good” – onde sabemos que, aconteça o que acontecer, tudo ficará bem.
Também contribui para o clima positivo a figura materna de Julie Walters (conhecida como Molly Weasley na série Harry Potter). Com o apoio das duas, Potts junta dinheiro para estudar música em Veneza e conhecer seu ídolo, Luciano Pavarotti.
O que poderia ser a oportunidade de sua vida logo se revela apenas mais um degrau na longa escada rumo à auto-aceitação e ao sucesso. Esse, chega depois de uma apendicite, um tumor na tireoide e algumas costelas quebradas. Chega por acaso, numa sequência que mescla imagens de arquivo dos jurados do programa britânico a gravações do ator no lugar do cantor. O encaixe é apressado e, dada a facilidade com que tudo acontece a partir daí, poderia bem ter sido reduzido a uma narração em off.
“Apenas Uma Chance” é dirigido por David Frankel - o mesmo por trás de “Marley & Eu” e “O Diabo Veste Prada”. Seu novo trabalho não tem a mesma personalidade nem o vigor cômico e dramático que consagrou os outros dois, mas deve agradar a um público cansado de excessos. Equilibrado, o longa privilegia as pequenas conquistas de seu protagonista ao invés de concentrar esforços nas adversidades ou no sucesso final. O resultado é um filme agradável, que não mudará os conceitos de cinema de seus espectadores, mas fará seu dia um pouco mais musical.
Assista se você:
- Gosta de ópera
- Gosta de histórias de superação
- Quer ver as belíssimas cenas filmadas em Veneza
Não assista se você:
- Não gosta de música (ópera muito menos)
- Está cansado de histórias de superação
- Não gosta de filmes água-com-açúcar
Ficou curioso? Assista à primeira apresentação de Paul Potts (o verdadeiro) no programa Britain's Got Talent:
Por Juliana Varella
Atualizado em 11 Jul 2014.