Quando um estúdio anuncia um remake, a primeira questão que vem à mente é “por que essa história precisa ser contada novamente?”. Às vezes, a primeira versão não explorou todas as possibilidades do material original e ainda há espaço para novos pontos de vista. Pode ser, ainda, que o filme anterior tenha deixado a desejar na execução, desperdiçando uma boa ideia. Pensando nisso, o que justifica o novo “Cinderela”, que a Walt Disney traz aos cinemas no próximo dia 26?
A resposta é, provavelmente, nada. Com exceção do fato de ser encenado com atores, o filme que estreia em 2015 não propõe nenhuma novidade em relação ao clássico de 1950. Pelo menos, nenhuma novidade positiva: o longa de Kenneth Branagh abre mão do humor e da ludicidade que sustentavam a animação (pense nos ratinhos cantores) para investir numa quantidade quase insuportável de água e açúcar.
O visual, como era de se esperar, é irretocável. O fotógrafo Haris Zambarloukos, a figurinista Sandy Powell e o designer de produção Dante Ferretti cumprem a missão de transformar a tela branca num reino maravilhoso, gloriosamente iluminado e digno dos sonhos de qualquer Cinderela. Há que se questionar o famoso vestido azul do baile, ornamentado com borboletinhas e tule, mas, em geral, as centenas de metros de tecido se justificam e fazem a diferença.
Lily James interpreta Ella, uma jovem que perde o pai e é feita de empregada pela madrasta (Cate Blanchett, arrepiante), até encontrar um príncipe (Richard Madden) que se encanta com sua bondade. Com a ajuda da fada madrinha (Helena Bonham Carter, carismática como sempre), ela consegue ir ao baile real e dançar com ele, mas sai às pressas, deixando para trás apenas um sapatinho de cristal.
Exatamente como no filme de 1950. O remake não busca influência no conto escrito por Charles Perrault (que inclui alguns detalhes bastante sórdidos), mas apenas refaz a adaptação animada, talvez na tentativa de atrair um novo público. Que público seria esse, porém, é uma questão difícil de responder, já que o longa não dá espaço suficiente para que as crianças se divirtam com os ratinhos e com o gato Lúcifer, nem endossa discursos que ganharam força nas últimas décadas, como a igualdade entre gêneros e etnias (um coadjuvante não conta) ou o combate à magreza excessiva (o que é aquela cintura, gente?).
Além de antiquado, “Cinderela” também soa vazio, elegendo a frase “seja corajoso e gentil” como uma espécie de mantra que se contradiz pela própria protagonista. Cinderela não tem coragem para enfrentar a madrasta e, se em algum momento consegue o que quer, é graças à fada madrinha ou aos animais, não à sua coragem e gentileza. Repetida à exaustão, a lição de moral perde a força e o sentido – coisas que parecem faltar ao filme como um todo.
Para quem for conferir a novidade nos cinemas, a boa notícia é que o longa vem acompanhado de um curta-metragem com a turma de Frozen chamado “Febre Congelante”. Nele, Elsa tem um resfriado que coloca em risco todos os preparativos para a festa de aniversário de Anna. O curta tem um longo número musical e traz de volta os simpáticos Olaf, Sven e Kristoff. Pelo menos, um prêmio de consolação (dos mais fraquinhos).
Por Juliana Varella
Atualizado em 27 Mar 2015.