Se você é daqueles que pensa que machismo é coisa do passado (ou que feminismo é tão prejudicial quanto ele), este pode ser um bom momento para rever seus conceitos. Recentemente, um teste criado em 1985 pela cartunista Alison Bechdel tem voltado a circular na internet, impulsionado por uma série de pesquisas sobre mulheres em Hollywood.
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O teste, que ganhou o nome de sua criadora, indica facilmente se um filme tem ou não participação feminina relevante – por isso tem ajudado a levantar a bandeira do feminismo no cinema. Note que ele não faz nenhuma menção à quantidade de homens ou à proporção de personagens masculinos e femininos, nem mesmo ao teor geral do filme. É apenas um teste mínimo e, por isso mesmo, preocupante.
Para aplicá-lo, basta questionar o longa com três perguntas básicas:
- Há mais de uma mulher com falas? (há grupos que consideram que as mulheres precisam ser nomeadas, mas a tirinha original de Bechdel não menciona isso)
- Essas mulheres conversam entre si?
- O assunto da conversa é algo além de um homem?
À primeira vista, estas perguntas podem parecer uma piada – é claro que há mais de uma mulher com falas em todo filme, exceto em monólogos ou longas de ação, com temas especificamente masculinos… Ou não?
Nem sempre: uma pesquisa feita em 2013 pela New York Film Academy revelou que, em média, as mulheres têm apenas 30% dos papéis com falas nos 500 filmes mais vistos entre 2007 e 2012. Desses filmes, apenas 6% contrataram um elenco balanceado (entre 45 e 55% de mulheres com falas).
Se esses números não são suficientes para provar que o cinema ainda não é um espaço igualitário para os gêneros, saiba que, entre as 10 atrizes mais bem pagas de Hollywood em 2013, apenas Angelina Jolie superou um dos 10 atores mais bem pagos – Liam Neeson. O ator no topo da lista, Robert Downey Jr., faturou mais do que o dobro do salário de Jolie naquele ano: US$ 75 milhões, contra US$ 33 da atriz.
Como essa realidade se reflete no teste de Bechdel? Para tirar a dúvida, o Guia da Semana passou a “malha fina” nos 10 filmes com maior bilheteria no último ano. Confira o resultado:
1. Jogos Vorazes – Em Chamas – APROVADO
A franquia Jogos Vorazes foi uma conquista e tanto para a ala feminina dos cinéfilos. Não apenas a protagonista é uma mulher forte, determinada e complexa, como vários outros personagens também são, sem que isso signifique que não há homens, ou que o filme é estritamente feminino. O elenco é bastante equilibrado – em parte porque os “tributos” são sempre um casal de cada distrito, mas também porque há uma grande variedade de coadjuvantes de ambos os sexos fora dos jogos. Além disso, o objetivo da protagonista não é conquistar um amor, mas sim vencer os Jogos, desafiar a Capital e conduzir a revolução.
2. Homem de Ferro 3 – APROVADO (por uma única cena)
Há entre os filmes “aprovados” uma categoria bastante comum, que é a dos “aprovados por uma única cena”. De fato, há duas mulheres que conversam sobre algo além de um homem – mas é uma única conversa, e na maioria das vezes não passa de uma troca de farpas ou de um diálogo banal. Homem de Ferro 3 se encaixa nessa categoria: durante uma conversa entre Pepper e Maya, sobre homens, há um pequeno trecho em que falam do trabalho de Maya.
3. Frozen – APROVADO
Com duas novas princesas e uma alfinetada na tradição do “amor à primeira vista”, a Disney conseguiu lançar um filme infantil que passa – com louvor – no teste de Bechdel. A história gira em torno de duas irmãs e elas conversam sobre brincadeiras, sobre o reino, sobre o poder de Elsa… E também sobre homens – sem que isso seja o foco principal.
4. Meu Malvado Favorito 2 – APROVADO (por uma única cena)
Pode não parecer, mas grande parte das animações infantis não passa no teste. Meu Malvado Favorito 2, um dos maiores sucessos de 2013, tem uma única cena onde as fihas de Gru conversam sobre algo além de Gru ou do namorado de Margô: quando elas estão brincando com moedas numa fonte de desejos.
5. Homem de Aço – REPROVADO
Há mulheres em papéis importantes em Homem de Aço, mas, surpreendentemente, elas não têm nenhuma interação relevante. Nos momentos em que uma mulher se dirige à outra, normalmente não há resposta – é apenas uma ordem ou um comentário, sem configurar um diálogo.
6. Gravidade – REPROVADO
Gravidade é uma daquelas exceções à regra. Num filme com praticamente uma única personagem (que, aliás, é feminina), seria de fato difícil que houvesse qualquer interação entre mulheres. Mas olhe mais de perto: há pelo menos três homens com falas, com quem a dra. Stone conversa: o personagem de George Clooney, Houston e o esquimó, com quem ela fala pelo rádio.
7. Universidade Monstros – REPROVADO
Mesmo com uma quantidade razoável de monstros femininos na animação da Pixar, não há diálogos entre essas personagens – elas interagem por gestos, olhares e risadas, mas as verdadeiras conversas se dão apenas com os protagonistas ou com outros monstros masculinos.
8. Hobbit – A Desolação de Smaug – REPROVADO
Não é de se espantar que a adaptação de um livro de J.R.R.Tolkien (que não tem personagens femininas) tenha falhado no teste. Porém, o filme não é totalmente fiel ao livro e inclusive acrescenta uma personagem (Tauriel) que não existe na história original – portanto, havia a possibilidade de criar um diálogo. Mas isso não acontece.
9. Velozes e Furiosos 6 – REPROVADO
Sem surpresas: num filme sobre carros, velocidade e violência, não há assunto para as mulheres. Contudo, há uma quantidade razoável de personagens femininas e seria bastante plausível que houvesse um diálogo sobre corridas – mas o que se vê são apenas brigas sem falas ou conversas sobre homens.
10. Oz: Mágico e Poderoso – APROVADO (por uma única cena)
Com três bruxas em papéis centrais, seria justo que houvesse muitos diálogos entre elas, ou entre elas e outras mulheres de Oz, certo? Na prática, o que acontece é que apenas um fragmento de diálogo entre Evanora e Theodora foge do tema masculino. Elas falam sobre a relação de uma com a outra, como irmãs – no meio de uma conversa sobre a chegada do Mágico a Oz (portanto sobre um homem).
Por Juliana Varella
Atualizado em 8 Mar 2014.