A repórter de cinema do Guia da Semana foi convidada para conhecer o Cine Caixa Belas Artes três dias antes da inauguração oficial, que acontece no sábado, dia 19, às 16h. Saiba como foi essa experiência:
Parei em frente ao número 2423 da Consolação com a ansiedade de um primeiro encontro. O letreiro, que durante meses ostentara um desgastado “BELAS ARTES”, dizia agora apenas “LAS A”, em letras novas e brilhantes. Sorri para a assessora, que me indicou o caminho até uma sala no fundo, passando o que viria a ser a bilheteria, o hall e o café. Era difícil acreditar que, apenas três dias depois, aquele oceano de poeira, papelões e carpetes soltos, encharcados de cola, se transformaria numa espécie de templo sagrado para os cinéfilos paulistanos. Rezei para que fosse verdade.
O cheiro forte e inebriante me acompanhou até a Sala 3. Fiquei sabendo depois que ela abrigaria sessões com clima de Drive-in, meia-luz e comidinhas assinadas por ninguém menos que Alex Atala (chef de outro dinossauro reaberto do outro lado da rua: o bar Riviera). Lá, comecei a reconhecer o que um dia fora o Belas Artes: poltronas vermelhas se enfileiravam, esbranquiçadas de pó, num corredor estreito e não muito inclinado – bem diferente das salas-stadium dos cinemas mais modernos.
De volta ao hall, contornamos o elegante espelho que agora ocupa a parede de frente para a bilheteria (ideia do arquiteto Roberto Loeb) e subimos as escadas, sob uma iluminação geométrica e envolvente. Subimos outro lance, esse adornado com pedras de mármore restauradas, e enfim alcançamos a Sala 2. Fui informada de que haveria rampas de acesso a todas as salas, mas não as vi.
As poltronas naquele andar eram pretas e as salas, mais largas e devidamente inclinadas. Profissionais testavam as luzes, fazendo escurecer e brilhar todo aquele espaço como se o filme já tivesse começado.
Aquela sala, explicaram-nos, era equipada com um palco elevado, onde pocket shows, stand ups e outras apresentações dividiriam espaço com a programação de filmes. Era de se esperar que André Sturm, que revolucionou um museu tão pouco popular quanto o MIS com exposições interativas, não fosse se contentar apenas com mostras de cinema em seu novo-velho espaço cultural.
Antes de descermos ao térreo, paramos para admirar o mezanino. Ninguém conseguiu esconder o sorriso saudoso: era ali que se esperava pelo início das sessões, observando de cima a movimentada avenida pela parede toda de vidro (hoje, coberta de panos e pó).
O esqueleto de uma bombonière e o antigo piso de mosaico (que será coberto por outro, liso) nos fizeram companhia por alguns minutos, enquanto Bárbara Sturm descrevia as novidades: da vinheta de segurança (com clássicos como Metrópolis e O Cão Andaluz) aos quitutes – pipoca e refrigerantes baratinhos e produtos gourmet não tão em conta assim, como salgados veganos e macarons.
Além das salas 2 e 3, a Sala 1 será o lar das “cadeiras cativas” – ou melhor, poltronas enfeitadas com plaquinhas com os nomes de quem comprou o plano “sócio”, podendo ver uma sessão por dia com acompanhante durante o ano todo. As tais plaquinhas, curiosamente, são simbólicas: na prática, essas pessoas poderão sentar em qualquer cadeira, e qualquer um poderá sentar em suas plaquinhas. Além desse pacote, foi vendido ainda o plano “cinéfilo”, com direito a uma sessão por semana. As vagas, por enquanto, estão esgotadas, mas devem reabrir no segundo semestre.
A Sala 4, seguindo pelo corredor à direita no térreo, foi rebatizada de SPCine Aleijadinho, pois receberá filmes brasileiros todos os dias, com ocasionais mostras de clássicos (estrangeiros) aos finais de semana. As duas salas do subsolo levarão mais alguns meses para ficarem prontas. Das seis salas, três (2, 4 e 6) serão equipadas com projetores 35 mm, um investimento de André na fidelidade de um público chegado a “arranhões” e “defeitinhos” típicos da película.
Os ingressos, custarão R$ 20 (inteira), com meia-entrada para estudantes, clientes Caixa e trabalhadores às segundas-feiras (basta levar a carteira de trabalho, holerite ou outro comprovante qualquer).
Depois de tantas subidas e descidas, o cheiro se atenuara, mas uma pergunta permanecia sem resposta: e quanto à programação? Segundo André, o primeiro noitão acontece já em agosto, mesmo mês que recebe a mostra do cineasta chinês Jia Zhangke (que deve vir ao Brasil). Em novembro, o homenageado é Gus Van Sant.
Quando saí, o letreiro dizia “LAS ARTES”. Estamos quase lá.
Por Juliana Varella
Atualizado em 17 Jul 2014.