Pascaline (Sara de Roo) arruma todos os detalhes para a grande noite: é Dia dos Namorados e o restaurante está cheio. O menu, fixo, terá três pratos, além da entrada e da sobremesa. São cinco atos que vão compor a refeição e o roteiro do romance belga “Bistrô Romantique”.
Na introdução, conhecemos o local e os personagens. No primeiro ato, descobrimos seus dramas e avançamos com eles. No segundo, chegamos às viradas; no terceiro, ao clímax. Já na conclusão (ou melhor, na sobremesa), descobrimos quem vai ficar com quem e saímos devidamente saciados.
Pascaline reencontra um antigo amor, que lhe propõe que jogue tudo para o alto e vá com ele para Buenos Aires. Ela tem até o final do jantar para decidir, tempo suficiente para que três outros relacionamentos (e relances de outros dois ou três) se desenvolvam para o bem ou para o mal.
Entre uma tentativa de suicídio, um primeiro encontro e o possível fim de um casamento de 17 anos, o filme faz um diagnóstico amplo do que é o amor e de todas as incertezas de que ele é feito, seja em sua forma mais ingênua ou mais racional.
Se fosse americano, o filme de Joël Vanhoebrouck teria tudo para ser uma comédia romântica nos moldes de “Simplesmente Amor” ou “Noite de Ano Novo”. Como esses, “Bistrô” também reúne uma grande quantidade de personagens com suas pequenas histórias de amor. Mas o longa, realista e analítico, se aproxima mais de um drama de costumes como “Medos Privados em Lugares Públicos”, do vizinho francês Alain Resnais.
As atuações, especialmente de Mathijs Scheepers (que interpreta o esquizofrênico Walter) e de Barbara Sarafian (que vive Roos, a esposa entediada), aquecem uma trama que poderia cair em soluções previsíveis, mas se mantém sempre instigante.
A fotografia, assinada por Ruben Impens, também deixa sua marca, criando o clima intimista da brasserie com tons amarelados e uma luz baixa que desenha contrastes expressivos sobre os rostos dos atores, suas taças e suas mãos sobre a comida. A trilha sonora, por sua vez, ajuda a manter uma tensão constante e melancólica, como se anunciasse que o amor é sempre assim, cheio de promessas e decepções.
“Bistrô Romantiek” é para amantes do cinema europeu: seu ritmo cadenciado deixa tempo de sobra para que o público saboreie cada conflito e seja envolvido por aqueles personagens, que logo se tornam velhos conhecidos. Não é um filme, porém, para quem busca risadas certas ou aquela catarse que grandes melodramas costumam oferecer. Este é para pensar – e levar o companheiro, se tiver coragem.
Assista se você:
- Quer ver um filme honesto sobre amor
- Gosta de cinema europeu
- Procura um filme para ver a dois
Não assista se você:
- Não gosta de filmes românticos (mesmo que não tão otimistas)
- Não gosta de cinema europeu
- Procura um filme leve para rir e chorar sem pensar muito
Por Juliana Varella
Atualizado em 1 Jul 2014.