Misture vários contos de fadas que você adorava ouvir na infância, um musical que foi sucesso na Broadway, um elenco de grandes atores com vozes perfeitas e você tem “Caminhos da Floresta”. O novo filme-família da Disney, que estreia no comecinho de 2015, tem tudo para ser um sucesso. Ou quase tudo.
Alguma coisa nesse cenário de sonho simplesmente não toca aquele pontinho mais sensível dos nossos corações cinéfilos. Se parte do público já sabe que sairá realizado apenas por ter assistido a mais um filme da Disney (com todo o jeitão fantasioso da casa), a outra parte provavelmente sairá com um olhar de indiferença – e não sentir nada pode ser pior do que sentir algo ruim.
A história gira em torno de uma bruxa (Meryl Streep) que lançou um feitiço sobre a família da casa ao lado, de forma que o jovem casal de padeiros que hoje vive ali (James Corden e Emily Blunt) não pode ter filhos. Um dia, ela oferece a eles uma chance para reverter a maldição. Para fazer a poção, eles deverão recolher quatro objetos mágicos: uma capa vermelha, uma vaca branca, um tufo de cabelo amarelo e um sapato dourado.
O casal parte para a floresta em busca dos objetos e acaba encontrando nossos velhos conhecidos: Chapeuzinho Vermelho (Lilla Crawford), João (Daniel Huttlestone), Rapunzel (Mackenzie Mauzy) e Cinderela (Anna Kendrick).
As histórias trazem elementos surpreendentemente fiéis às versões originais, muito mais violentas que as contadas nos desenhos animados. As irmãs de Cinderela, por exemplo, têm seus pés mutilados pela mãe para servirem no sapatinho.
Há uma moral pouco reconfortante, também, mas mais realista: para conseguir seu final feliz, o padeiro e sua esposa talvez precisem passar por cima de outros finais felizes, e, eventualmente, o que eles pensavam ser seu final feliz também encontrará suas pedras e espinhos – alguns bem afiados.
Apesar de sombrio em alguns aspectos, o longa não deixa de ser um musical bastante infantil, com algumas canções engraçadas e cativantes (como o dueto entre Chris Pine e Billy Magnussen com “Agony”). Entretanto, há sequências em que a música não tem função alguma senão reforçar o que já foi dito com falas, o que pode ser cansativo (como é o caso de “I Know Things Now”, cantada pela Chapeuzinho Vermelho).
Quem decidir ir ao cinema apenas para ver a atuação fabulosa de Meryl Streep será recompensado. A atriz entrega duas cenas que, sozinhas, já fazem valer o ingresso: uma é sua primeira aparição, quando entra na casa dos vizinhos fazendo caras e bocas; outra é seu solo, quando canta “Stay With Me” com um misto explosivo de tristeza e indignação.
Com esses momentos, Streep faz da bruxa a personagem mais complexa e mais interessante do filme – o problema é que, com tantos personagens para desenvolver, sobra pouco tempo para acompanharmos sua trajetória e seu desfecho acaba sendo brusco demais.
“Caminhos da Floresta” tem todos os ingredientes para quem procura a experiência de um teatro no cinema: as músicas, as atuações exageradas, o visual colorido e as piadinhas. O que falta é algo que justifique ao público trocar um meio pelo outro: por que não, então, ir logo ao teatro? Se tivéssemos essa peça em cartaz, não haveria dúvida.
Por Juliana Varella
Atualizado em 15 Jan 2015.