Lido por milhares de adolescentes e eternizado na memória de muitos, Capitães da Areia, o romance escrito por Jorge Amado em 1937, ganha as salas de cinema a partir de 7 de outubro na produção homônima assinada por sua neta Cecília Amado.
Mais atual do que nunca, o longa, que se passa na década de 50, acompanha um ano da vida de garotos que lutam para sobreviver em Salvador, lidando com o contraponto entre o abandono da família e a liberdade encontrada nas ruas. "Uma criança que fica sozinha dentro de um apartamento também se sente abandonada", comenta Cecília explicando a abrangência do assunto. "Do mesmo modo que todo adolescente sonha com a liberdade de poder fazer o que quiser", conclui.
Assim como o livro, o filme poderia apelar para o lado político, ou talvez ser mais triste e dramático, no entanto, não foi isso o que Cecília pensou na hora da montagem. “Queria ser fiel ao Jorge que eu conheci, alguém muito mais humanista do que o Jorge político de 24 anos que escreveu o livro”, conta a neta e diretora para explicar a abordagem muito mais cultural e social da obra cinematográfica, o que torna o filme leve, divertido e apaixonante.
“Sob a lua, num velho trapiche abandonado”
Sob o comando de Pedro Bala, garotos como Boa Vida, Sem-Pernas, Gato, Professor e tantos outros formam o grupo conhecido como Capitães da Areia pela facilidade de se camuflar nas ruas da cidade depois dos furtos realizados durante o dia. À noite eles se refugiam num barracão abandonado à beira-mar; dezenas de garotos dormindo em redes, no chão ou em algum cantinho, com o compromisso de respeitarem uns aos outros e a missão de defender os garotos de rua.
Isso até o dia em que Dora chega ao local, depois da morte de seus pais, contaminados pela Varíola. A garota sofre com o preconceito e tentativas de estupros. Mas é forte e corajosa, principalmente para defender seu irmão mais novo, Zé Fuinha, acima até da própria vida. Com o passar dos dias, a garota conquista o respeito e amor dos meninos, que veem nela uma mãe. Exceto Professor e Pedro Bala, que olham a menina-mulher com olhos apaixonados.
Nesse período de transição da infância para a adolescência apresentado no longa, os Capitães encaram aventuras, se entregam a amores e vivem sonhos encantadores e verdadeiros pesadelos.
“Eram na verdade os donos da cidade... os seus poetas”
Para representar jovens da Bahia, nada melhor do que jovens da Bahia. Foi buscando essa verdade na atuação que a diretora buscou seu elenco mirim em ONGs, projetos sociais e comunidades do estado nordestino. “Foram 1.200 entrevistados até chegar em 90 selecionados. Depois de dois meses de oficina montamos a ‘família’ final”, conta Cecília sobre a descoberta de talentos em adolescentes como Jean Luis Amorim (Pedro Bala), Ana Graciela (Dora) e Robério Lima (Professor).
E por que não uma trilha sonora assinada por um soteropolitano ligado a projetos sociais? Assim, Cecília convidou Carlinhos Brown para ser o responsável pela produção musical do filme. Um casamento perfeito entre som e imagem, com doses de axé, capoeira e religiosidade, que pode ser conferido nas telonas.
Algumas curiosidades sobre a produção:
As gravações do filme foram divididas em três etapas, sendo concluídas após nove meses. Isso aconteceu propositalmente para acompanhar o crescimento dos atores, tornando mais real a passagem da infância para a adolescência transmitida no filme.
Enquanto compunha a trilha sonora do filme, Carlinhos Brown recebeu o convite para participar também das trilhas da animação RIO e da franquia Velozes e Furiosos 5. "Capitães de Areia me deu sorte", brinca o cantor.
Em 2012, o escritor baiano Jorge Amado completaria 100 anos. Para Cecília Amado, o fato de o filme ser lançado na mesma época não é uma coincidência. "É o momento de recuperar a cultura e trazer Jorge Amado para as novas gerações".
Por Mariana Viola
Atualizado em 10 Abr 2012.