No ano em que Masami Kurumada completa quatro décadas de carreira e que o anime baseado em seu trabalho completa 20 anos da estreia no Brasil, os fãs de Cavaleiros do Zodíaco não poderiam esperar outra coisa: um reboot da saga mais famosa, a do Santuário, chega aos cinemas neste mês em versão high-tech.
A história é parecida, mas não idêntica. Em comum, tem o fato de que o cavaleiro de Sagitário, Aiolos, salvou o bebê Atena das garras do Mestre do Santuário e foi considerado um traidor, morrendo antes de entregá-la a um magnata. A criança cresceu com o nome de Saori e um grupo de cavaleiros foi treinado para protegê-la, quando chegasse a hora de assumir sua verdadeira identidade de deusa.
As diferenças estão nos detalhes: este Santuário não fica na Grécia, mas sim em algum lugar da galáxia, num universo gótico-futurista com terras flutuantes. As armaduras foram redesenhadas e a forma de colocá-las é muito menos prática e mais coreografada, com pequenos pingentes sendo usados como “morfadores” – por alguma razão, a influência de Power Rangers é gigantesca, desde as transformações até o último confronto.
As mudanças estéticas são bem vindas e trazem um ar mais contemporâneo à saga. As armaduras são interessantes, os cenários estão bem feitos, o visual lembra os de video-games, mas não num sentido negativo.
Outra diferença importante, no roteiro, é que existe uma falsa Atena reinando no Santuário, fazendo com que os Cavaleiros de Ouro reconheçam Saori como uma rebelde. A identidade dessa farsante gera curiosidade e poderia render boas viradas, mas sua existência é esquecida em poucos minutos de filme.
Quem se perguntava como o diretor Keiichi Sato conseguiria encaixar as 12 Casas em tão pouco tempo, a resposta é clara: não consegue. Cavaleiros se misturam, casas são ignoradas e o tempo para reconhecer cada um dos personagens é insuficiente.
A maioria das cenas de ação são confusas e não lembram em nada os confrontos da série de TV, que sempre vinham acompanhados de discursos moralizantes e comentários sobre a força e a origem de cada adversário. No longa, não sabemos quem está de cada lado, nem por quê, e isso parece não importar, desde que sobre tempo para uma piada.
Tentando aumentar o humor e atrair o público jovem, o filme aposta numa linguagem coloquial e em estereótipos. Seiya é brincalhão e faz trapalhadas para impressionar Saori. Hyoga é blasé, Shun é amigável e Shiryu é uma enciclopédia ambulante. Já Ikki... É mero coadjuvante.
Touro e Câncer também ganham personalidades novas. O primeiro aparece como um toureiro glutão, de feições espanholas, mas mantém a atitude silenciosa de sempre. Já o cavaleiro de Câncer, Máscara da Morte, é o que causa mais estranhamento: não é arrogante e destemido como um guerreiro que lida diariamente com os mortos, mas sim covarde, escandaloso e fraco. A ideia foi aproximar sua imagem da Festa dos Mortos mexicana, com cores vivas e a morte como um destino alegre – mas isso não vai agradar aos cancerianos.
É difícil dizer com certeza se “Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário” é um filme para fãs ou para leigos. Didático e moderninho, ele tenta ganhar a simpatia de crianças e adolescentes que não assistiram à série original nem leram o mangá, mas a pressa em apresentar todos os personagens em míseros 90 minutos torna a aventura, muitas vezes, incompreensível para não-iniciados. O resultado é decepcionante.
Assista se você:
- É fã de Cavaleiros do Zodíaco (e está disposto a encarar de tudo para ver um pouco mais dos personagens)
- Quer ver os gráficos modernos e as novas armaduras
- Quer ver como ficaria Cavaleiros do Zodíaco com um humor mais infantil
Não assista se você:
- Espera ter uma canção de abertura para cantar junto no cinema
- É do signo de câncer ou seu cavaleiro favorito é o Máscara da Morte
- Quer conhecer Cavaleiros do Zodíaco pela primeira vez
Por Juliana Varella
Atualizado em 12 Set 2014.