Guardem suas pedras. “Cinquenta Tons de Cinza”, a adaptação de Sam Taylor-Johnson (“O Garoto de Liverpool”) para o bestseller de E.L. James, não é a escória da produção cinematográfica da última década. Tampouco é uma obra-prima. O filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 12 de fevereiro (Valentine’s Day nos EUA), é apenas um interessante, divertido e muito necessário filme feminino sobre sexo.
Feminino, veja bem. Não feminista, nem (muito menos) machista, mas algo muito mais simples e despretensioso. Dakota Johnson interpreta Anastasia Steele, uma estudante de literatura que substitui sua amiga repórter Kate (Eloise Mumford) numa entrevista com o milionário Christian Grey (Jamie Dornan), o solteiro mais cobiçado de Seattle.
Como não é jornalista, Steele se sente terrivelmente intimidada pelo entrevistado, ainda mais quando ele se descreve como “controlador” e finca seus olhos sugestivamente nos dela. Esse diálogo inicial acaba se saindo mais cômico do que sensual e a tensão entre os dois parece tão forçada quanto suas falas, mas as coisas melhoram depois de alguns minutos.
Grey é um personagem pouco provável, mas funciona bem nesta espécie de conto-de-fadas erótico. Rico, mimado e cheio de regras (especialmente para o sexo), ele é uma criatura a ser domada pela protagonista – uma garota ainda infantil que precisará crescer e ganhar confiança se quiser transformar esse relacionamento em algo saudável para os dois.
O livro chocou o mundo e conquistou uma legião de fãs por mostrar o sadomasoquismo como uma prática possível, não como uma aberração ou uma demonstração de violência. O filme segue o mesmo caminho, revezando entre cenas eróticas leves (com chicotes, vendas e gravatas) e a evolução do relacionamento entre o casal.
A alternância de poder entre Steele e Grey é o que torna o filme mais do que um romance convencional. Ele rege sua vida por regras e contratos e acredita que precisa estar no controle para se sentir seguro e ter prazer. Ela, por sua vez, recusa a submissão e tenta encontrar um equilíbrio entre a dominação desejável e o sufocamento de sua vida particular.
Johnson e Dornan são as peças mais frágeis dessa adaptação, que poderia ter um impacto muito maior se o elenco fosse outro. A atriz começa mal, exagerando na respiração desde a primeira cena, mas sua atuação evolui junto com a personagem, alcançando uma sequência final bastante convincente (mesmo que não excepcional). Já o ator irlandês permanece engessado do começo ao fim, deixando transparecer muito mais insegurança do que o personagem deveria demonstrar.
Apesar dos muitos pontos fracos, “Cinquenta Tons de Cinza” preenche uma lacuna importante no cinema de massa atual, tanto pelo conteúdo quanto pelo público-alvo. Escrito e dirigido por mulheres e com uma protagonista feminina, o filme dialoga com uma espectadora que, acostumada a se contentar com obras feitas por homens para homens, poderá exigir mais personagens que a representem, sejam elas Anastasias ou Kates. Gostem elas de algemas ou não.
Por Juliana Varella
Atualizado em 12 Fev 2015.