Esta é uma das primeiras vezes que uma multidão se interessa em ir aos cinemas só para ver Matthew McConaughey... E ele não está bonito, nem musculoso. O galã mais bronzeado de Hollywood concluiu em “Clube de Compras Dallas” sua manobra mais radical e, em dois ou três anos, transformou sua carreira de rostinho bonito em promessa do Oscar 2014.
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Se eu disse que McConaughey não está musculoso em “Dallas”, é porque ele perdeu algo próximo de 20 quilos para viver Ronald Woodroof – um caubói mulherengo e homofóbico que descobre estar com AIDS – e com apenas 30 dias de vida.
Ao longo do filme, ele soma à sua fisionomia frágil uma palidez mórbida, olhos avermelhados, manchas vermelhas e pretas e um suporte de soro quase de sua altura, que carrega de um lado para o outro feito uma complicada bengala. O tremor da câmera acentua sua tontura e sofremos com ele.
Ao seu lado está Rayon: um Jared Leto de magreza igualmente alarmante e maquiagem impecável. Ele é um travesti, que Woodroof conhece no leito do hospital e com quem começa a fazer negócios, quando a necessidade aperta. A relação entre os dois é um dos tesouros do filme, já que faz o personagem de McConaughey evoluir de um desprezível golpista a uma espécie de militante pelos direitos dos doentes – hétero e homossexuais.
Sua causa são os remédios – ainda em fase de testes no início dos anos 80, quando a epidemia de AIDS via seus dias mais terríveis. Quando diagnosticado, Woodroof recebe a proposta de participar de um teste da droga AZT, podendo estar no grupo medicado ou no placebo. A ideia de que pessoas à beira da morte estivessem sendo tratadas com placebos retorce sua mente e provoca uma atitude mais drástica.
O ex-caubói, agora rejeitado por seus antigos colegas, parte numa busca por remédios alternativos, que encontra primeiramente no México. É claro que esses frascos ainda não foram autorizados nos EUA, então Woodroof faz a escolha mais óbvia e decide traficá-los de volta para Dallas, formando o chamado “Clube de Compras Dallas”.
Os métodos do protagonista podem ser condenáveis, no início, mas ele parece crescer mais e mais consciente da injustiça que envolve a indústria farmacêutica e o governo americano. Por que recusar qualquer tratamento a pacientes que já estão à beira da morte e que tomariam até ácido se isso tivesse a mínima chance de curá-los? Para protegê-los dos efeitos colaterais certamente não é a resposta. Especialmente quando ele descobre que o AZT, agora amplamente receitado, era como veneno para organismos fragilizados.
Também pende a seu favor o fato de que alguns dos remédios “traficados” não passavam de vitaminas ou medicamentos inofensivos, sem efeitos colaterais comprovados. A política, nesse momento, se sobrepõe à ética médica, deixando a doutora Eve (Jennifer Garner) confusa sobre o seu papel – ela deve obedecer às ordens do hospital, negociadas com empresas farmacêuticas, ou deve arriscar seu emprego e apoiar a causa de Woodroof, buscando alternativas mais eficientes fora dali?
“Dallas” propõe questões como essa sem se esconder na neutralidade. O protagonista, afinal, sobrevive muito mais do que os 30 dias a que havia sido condenado e ganha o respeito de pessoas que jamais o teriam ajudado. Seu lado é o vencedor, mesmo que a luta leve anos para ser concluída e que o governo jamais dê, realmente, o braço a torcer.
A experiência é longa e catártica e, quando tudo acaba, sentimos como se todo o horror dos anos 80 tivesse se apoiado sobre nossos ombros durante duas horas, deixando um sentimento quase bom. Então, finalmente, o compreendemos: é alívio. Vencemos a luta.
Assista se você:
- Quer entender o que significou a AIDS para os anos 80
- Quer saber mais sobre o papel da indústria farmacêutica no combate à AIDS
- Quer ver uma grande atuação de Matthew McConaughey
Não assista se você:
- Não está no clima para ver um filme pesado/triste
- Não gosta de filmes sérios sobre histórias reais
- Procura um filme leve para ver em família
Por Juliana Varella
Atualizado em 14 Fev 2014.