A nova comédia nonsense do diretor Quentin Dupieux, Wrong (errado, em inglês), chegou aos cinemas na última sexta-feira, dia 2 de agosto, trazendo um frescor mais provocativo à leva de super-heróis e filmes-família que preencheram os cinemas durante as férias de julho. Com um roteiro aparentemente despretensioso, Dupieux extrai um retrato crítico e impiedoso da atualidade.
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Dolph (Jack Plotnick) é o protagonista: um homem comum num universo retrô (que lembra um pouco a nostalgia surrealista de Michel Gondry em A Espuma dos Dias), que veste um robe ao acordar e chama seu cachorro Paul para acompanhá-lo no café-da-manhã. O problema, neste dia em particular, é que Paul não responde. Ele desapareceu.
A confusão mental de Dolph ao perceber a falta do animal se reflete em diálogos sem sentido com o vizinho, com uma atendente da pizzaria local e com o jardineiro, Victor (Eric Judor). Aos poucos, o espectador percebe o quão sensorial é o filme de Dupieux: os sentimentos são traduzidos em imagens ou situações, ao invés de expressados com palavras, como no “clima pesado” do escritório, na transformação da árvore no jardim ou na jornada por auto-conhecimento do vizinho.
A busca pelo cão revela um esquema organizado por um guru de auto-ajuda em relacionamentos, que planta em seus clientes a necessidade pelo tratamento oferecido por ele – como na publicidade, que trabalha para tornar desejáveis ao usuário os objetos que fabrica. A relação entre auto-ajuda e publicidade fica clara quando surge um personagem cuja função é pintar carros, aleatoriamente, caso seus donos tenham desejado outra cor.
A crítica, portanto, recai sobre a sociedade de consumo e o estilo de vida ocidental contemporâneo, ancorado numa espiritualidade fabricada e calculada (o “guru” vende seus livros a Dolph como parte do tratamento). Caem na “rede” do diretor, ainda, questões como o amor e a espionagem, temas populares na ficção contemporânea, que são aqui desconstruídos até tocarem o ridículo.
Com toda essa mistura, a loucura inicial de Wrong ganha, aos poucos, traços mais familiares e surpreendentemente divertidos. Ideais para fugir da monotonia dos blockbusters.
Assista se você:
- Aprecia o cinema francês
- Gosta de comédias nonsense
- Procura um filme diferente
Não assista se você:
- Prefere blockbusters
- Quer ver um filme para relaxar
- Não gosta de surrealismo
Por Juliana Varella
Atualizado em 5 Ago 2013.