Estreia nesta quinta um filme curioso, perfeito para quem quer fugir da mesmice dos blockbusters americanos sem se distanciar tanto de um campo conhecido. “Creepy”, ou “Kuripi: Itsuwari no Rinjin”, é um suspense dirigido pelo experiente Kiyoshi Kurosawa – pouco conhecido no Brasil, mas com uma carreira bastante respeitável no Japão, tento transitado por diversos gêneros em quase 30 longas para o cinema, além de trabalhos para a televisão.
Baseado no romance de Yutaka Maekawa, o filme conta a história de um ex-detetive especializado em psicologia criminal, que se torna professor ao mesmo tempo em que se muda para uma nova casa. Na escola, ele é confrontado com um antigo caso mal resolvido e não resiste em investigá-lo, apenas “para fins acadêmicos”. Paralelamente, um vizinho de comportamento muito estranho se aproxima de sua esposa.
O espectador não demora mais que dez minutos para adivinhar os eventos principais: o caso antigo estará ligado ao novo e o vizinho será a chave. Absorvido demais na investigação, o protagonista negligenciará o perigo mais próximo, até ser quase tarde demais. Enfim, resolvendo este caso, o ex-detetive encontrará redenção sobre o anterior, que terminara em tragédia e acabara com sua carreira.
Kurosawa, porém, consegue surpreender nos detalhes: o fato de o criminoso ser a pessoa mais óbvia é compensado pelos métodos nada convencionais que ele usa, e as atitudes das demais personagens quebram quase todas as expectativas, para o bem ou para o mal. Em algumas cenas, o público se pegará pensando “mas por que ele não fez aquilo???” ou o clássico “não faça isso, é óbvio que vai dar errado!!!”. Essas reações, pelo menos, mantêm o espectador intrigado.
Se o filme consegue criar uma atmosfera de tensão constante, surpreende que um diretor tão experiente (que inclusive co-escreveu o roteiro) tenha deixado passarem tantos furos e pontas soltas. Sem dedicar um único diálogo para explicar certos recursos (como a droga misteriosa usada pelo criminoso para subjugar suas vítimas), o filme cai na armadilha de soar absurdo, incoerente ou simplesmente conveniente demais. Que vilão é esse que manipula tão bem as pessoas sem nem mesmo ter habilidades sociais? Que ex-detetive é esse que ignora uma grave denúncia espontânea de uma garotinha?
“Creepy”, portanto, mergulha sobre uma tradição hollywoodiana de serial killers e seus rivais policiais, mas com um ritmo essencialmente oriental, mais lento e, ao mesmo tempo, mais tenso. Contudo, o filme falha ao não amarrar todos os elementos de seu mistério, fazendo com que a história pareça falsa ou inacabada.
Apesar dos problemas, este é um filme que vai render longas discussões após a sessão e cujo vilão – com seu exótico modus operandi – ficará marcado na imaginação de muitos espectadores. Isso, por si só, já vale o passeio ao cinema. Estreia no dia 17 de novembro.
Por Juliana Varella
Atualizado em 16 Nov 2016.