Não poderia haver momento mais oportuno para o lançamento de “As Sufragistas”. Baseado na história real do movimento britânico pelo direito ao voto feminino no início do século XX, o longa mostra o quanto já foi conquistado no caminho pela igualdade entre os gêneros, mas também permite ver o quanto ainda não foi.
Para quem pretende comprar o ingresso para ver a “diva das divas” Meryl Streep, fica o aviso: ela tem uma participação mínima no filme. A verdadeira protagonista é Maud Watts, interpretada por Carey Mulligan e acompanhada, na maior parte do tempo, por Violet Miller (Anne-Marie Duff) e Edith Ellyn (Helena Bonham Carter).
O filme acompanha a evolução de Maud, da negação do movimento sufragista (nome dado ao grupo organizado de mulheres que lutavam pelo voto, ou “sufrágio”) à militância extrema. Lavadeira, esposa e mãe, ela começa a questionar o próprio papel na sociedade quando, por um incidente, é levada a depor a favor do voto diante de um júri formado por homens.
O marido de Maud, vivido por Ben Whishaw, tem uma presença essencial no filme, representando o machismo internalizado que se disfarça de preocupação com a mulher. É dele que partem algumas das atitudes mais devastadoras da trama. O filme de Sarah Gavron mostra o quanto a militância exige daquelas mulheres, que abrem mão de suas famílias pelo sonho de uma vida melhor para suas filhas ou as filhas dos outros, pois sabem que a mudança não virá em seu tempo.
Para quem assiste à história hoje, algumas passagens são tão absurdas que parecem até ficção – como o fato de as mulheres não serem donas do próprio dinheiro, ou de não poderem ter a guarda (nem mesmo compartilhada) do próprio filho – mas outras, infelizmente, soam bastante familiares. É o caso de frases como “você é minha esposa, deveria se comportar como tal”, “mulheres não têm consciência do que estão fazendo” ou “controle sua mulher, ela está passando dos limites”.
“As Sufragistas” segue um formato linear de romance histórico, apostando nos pequenos gestos opressores mais do que em grandes confrontos. Talvez por isso, o filme não consegue surpreender ou superar as expectativas, atendo-se a cumprir exatamente o que prometera: uma história real dramatizada com o auxílio de uma história pessoal comovente. Não falta técnica à produção, mas falta ousadia. E, como o próprio filme ensina, a ousadia é necessária para provocar mudanças.
Por Juliana Varella
Atualizado em 11 Dez 2015.