Woody Allen é um cineasta incansável. Todos os anos, infalivelmente, ele lança pelo menos um filme – e, quase sempre, é algo acima da média. É claro que tanta quantidade faz com que nem todos os seus trabalhos sejam obras memoráveis, mas há uma graça e uma inteligência que se mantêm em toda a sua filmografia. “Homem Irracional” é um desses casos: certamente, não está entre os seus melhores, mas ainda assim é um filme engraçado e envolvente que você vai querer assistir num domingo à tarde.
O longa acompanha Abe (Joaquin Phoenix), um professor de filosofia que faz muito sucesso com os alunos, com seu jeito desleixado e sua postura contestadora em relação aos outros pensadores. Pessoalmente, porém, ele é um desastre: bebe muito, não quer se envolver com ninguém e acha suicídio uma ideia romântica e atraente.
As coisas começam a mudar quando Abe conhece a estudante Jill (Emma Stone). Não porque ele se apaixona, nem porque ela tenta lhe fazer ver o lado bom da vida, mas por um acaso: é quando está com ela que ele toma uma decisão transformadora, após ouvir uma conversa de estranhos.
Essa decisão vai tornar sua vida mais completa e suas relações (tanto com Jill quanto com outra professora) mais leves, mas também vai ser o início de uma longa queda. Afinal, é uma decisão moralmente questionável e nada racional.
O humor de “Homem Irracional” está no fato de que o filme pega um personagem pensativo e passivo e o transforma num sujeito de ação, criando uma comédia que contrapõe ideias e atitudes de forma surpreendente.
Há, porém, dois pontos fracos na obra. Um é a falta de desenvolvimento dessas mesmas ideias – ouvimos o professor tagarelar na sala de aula e nos corredores, mas não conseguimos encontrar uma linha clara de raciocínio. Ele nos parece, mais, um homem pessimista e incrédulo do que um teórico de fato. O segundo ponto é o ritmo: em determinado momento, o público se cansa da personalidade depressiva de Abe e da paixonite de Jill e começa a se perguntar aonde tudo aquilo irá chegar. Por que, afinal, devemos nos interessar por aqueles personagens?
Felizmente, as dúvidas são sanadas no terceiro ato, quando a reflexão dá lugar à ação e nossa curiosidade é fisgada de volta. No fim, o absurdo dos últimos minutos oferece um fechamento melhor do que a maior parte do filme e compensa a aparente banalidade da história.
Para fãs de Woody Allen, “Homem Irracional” será mais uma oportunidade de ouvir ótimos diálogos e contemplar personagens inteligentes, com algo provocativo a dizer. Para outros públicos, entretanto, o filme pode não convencer e, provavelmente, será esquecido com facilidade entre outros de seus tantos ensaios sobre o ser humano.
Por Juliana Varella
Atualizado em 25 Ago 2015.