Quatro estatuetas de ouro não foram suficientes para acalmar o espírito ambicioso de Alejandro González Iñárritu. Depois de levar os Oscars de Melhor Filme, Direção, Roteiro Original e Fotografia em 2015 por “Birdman”, o cineasta mexicano desponta novamente como o favorito da Academia com 12 indicações por “O Regresso”, que estreia nos cinemas no dia 4 de fevereiro.
Mais conhecido como “o filme que pode dar a Leonardo DiCaprio seu primeiro Oscar”, “O Regresso” é uma saga de sobrevivência, um filme hostil que exige força de seu público tanto quanto de seus protagonistas. DiCaprio interpreta Hugh Glass, o principal navegador num grupo de caçadores, no século XIX, que ganha a vida vendendo peles de animais. Ele é abandonado pela equipe no meio da floresta após ser atacado por um urso. Sua história é (pelo menos parcialmente) real.
Um dos temas mais fortes no filme é o conflito entre os exploradores e os índios americanos. Mesmo que os diálogos tentem dizer que as tribos não são todas iguais e também têm suas desavenças, tudo o que vemos na tela é a velha dualidade do bem (os “bons selvagens, ingênuos e manipulados”) contra o mal (o “branco que destrói a natureza”). Glass, que tem um filho mestiço, representa o equilíbrio ideal entre os povos, o herói sem defeitos.
Apesar de escorregar no maniqueísmo, o longa acerta em todos os quesitos técnicos. A fotografia, que explora a luz natural, é capaz de mergulhar o espectador no inverno canadense sem a necessidade de óculos 3D. O som também ajuda na ambientação, trazendo à sala todos os ruídos da natureza (a trilha musical, infelizmente, não colabora tanto). Já a habilidade de Iñárritu com a câmera faz com que cenas aparentemente impossíveis, como o ataque do urso a Glass, possam ser observadas de todos os ângulos, como se estivéssemos no local.
A batalha contra o animal, inclusive, revela uma característica que se repetirá em todas as outras cenas de ação de “O Regresso”: a brutalidade. Desde a sequência inicial, quando os exploradores são encurralados por índios, até o duelo final, o que vemos são brigas feias, sujas, sangrentas e por vezes desajeitadas, muito mais próximas de lutas reais do que as coreografias que nos acostumamos a ver no cinema. O efeito é incômodo, mas surpreendentemente hipnotizante.
Para quem está curioso para saber se a atuação de DiCaprio é digna da estatueta dourada, a resposta é sim, sem dúvida. Se o ator já havia mostrado sua capacidade de rastejar, grunhir e se contorcer naquela cena curta, mas inesquecível, de “O Lobo de Wall Street”, aqui ele explora ao máximo os limites do próprio corpo, inclusive da voz.
Quem também se destaca, num elenco que conta ainda com o onipresente Domhnall Gleeson (que também atua em “Star Wars: O Despertar da Força”, “Ex Machina” e “Brooklyn”, todos indicados a Oscars neste ano), é Tom Hardy, que interpreta o antagonista de Glass, John Fitzgerald. Mais uma vez, o maniqueísmo é forte e seu personagem é quase 100% mau, mas Hardy consegue entregar uma atuação tão convincente que quase nos pegamos torcendo por ele.
“O Regresso” concorre nas categorias Melhor Filme, Direção, Ator, Ator Coadjuvante, Fotografia, Montagem, Design de Produção, Figurino, Maquiagem, Mixagem de Som, Edição de Som e Efeitos Visuais.
Por Juliana Varella
Atualizado em 4 Fev 2016.