O Brasil pode não estar vivendo seu momento mais festivo, mas as Olimpíadas do Rio estão logo aí – e, com elas, também as Paralimpíadas, que acontecem entre 7 e 18 de setembro. Talvez você não saiba – ainda –, mas o Brasil tem uma das seleções paralímpicas mais fortes do mundo e, quando nomes como Terezinha Guilhermina, Daniel Dias, Fernando Fernandes e Alan Fonteles pisarem no campo, vai ser para brigar por medalhas.
Se você ainda pensa que o esporte com deficiência é uma categoria “menor” ou que esses atletas estão apenas “ganhando um espaço de inclusão social” para “quebrar preconceitos”, você precisa assistir ao documentário “Paratodos”, que chega aos cinemas de todo o país no dia 23 de junho. O filme acompanha a rotina de quatro equipes e observa, sem julgamentos, enquanto os atletas suam a camisa, brincam, vencem, perdem e enfrentam problemas que você nem imagina.
No atletismo, conhecemos o jovem que superou Oscar Pistorius, só para depois tirar um ano sabático e voltar fora de forma. Descobrimos a história da corredora cega que poderia ter ganho o campeonato, se seu guia tivesse conseguido acompanhar seu passo. Na canoagem, ficamos sabendo da importância de uma classificação justa – e vemos como um atleta na categoria errada (alguém com movimentos nas pernas colocado ao lado de alguém sem esses movimentos, por exemplo) pode prejudicar seriamente a competitividade de outro profissional.
Questões como essas normalmente passariam batidas, ofuscadas pela surpresa de ver alguém sem braços ou pernas, sem a visão ou com uma doença degenerativa praticando atividades com um desempenho com o qual a maioria de nós – saudáveis e com todos os membros no lugar – jamais poderia sonhar. Mas isso não deveria ser surpresa: eles são atletas, de verdade.
O longa é dividido em quatro partes, cada uma dedicada a um esporte. Na primeira, acompanhamos o velocista Alan Fonteles, campeão olímpico biamputado, a corredora cega apaixonada por cores Terezinha Guilhermina, recordista mundial nos 400m rasos, e o campeão olímpico nos 200m rasos Yohansson do Nascimento. Na segunda, é a vez do ex-BBB e tetracampeão mundial Fernando Fernandes representar a canoagem, ao lado do campeão pan-americano Fernando “Cowboy” Ruffino.
A terceira parte mostra a trajetória da equipe de “Futebol de 5” – todos cegos, exceto pelo treinador e o goleiro – rumo ao campeonato mundial no Japão. Esse trecho explora os batuques do time para criar uma trilha sonora pulsante e cheia de emoção. Na final, contra a Argentina, você se pegará torcendo com o coração na mão (e pensando se, talvez, não deveria ter assistido a esse jogo ao invés do deprimente 7 a 1).
O final do documentário é dedicado aos nadadores Daniel Dias, detentor de 15 medalhas olímpicas e nascido sem parte de uma perna e sem as mãos; e Suzana Schrnardof, ex-triatleta que precisou se reinventar após descobrir uma doença que atrofia seus músculos pouco-a-pouco. Do início ao fim das gravações – um intervalo de quatro anos –, ela chega a mudar de categoria devido à evolução do problema.
“Paratodos” tem pouquíssimos pontos que poderiam ser melhorados – o ritmo se perde um pouco na última parte e a organização por datas deixa tudo um pouco repetitivo. Mas esses defeitos são mínimos quando pensamos na qualidade das imagens e na intensidade das histórias (que funcionariam muito bem, também, na televisão, talvez num especial pré-olímpico).
Para quem ainda está com um pé atrás, vale reforçar que este não é mais um filme sobre superação. A superação já aconteceu para todos esses personagens, muito tempo atrás, e o que vemos agora é uma vida plena de atleta, com novos desafios e novos sonhos a serem alcançados. Quem sabe ainda este ano, nas Olimpíadas do Rio.
Por Juliana Varella
Atualizado em 24 Ago 2016.