O cinema brasileiro evoluiu muito nos últimos anos, mas alguns padrões insistem em se repetir. Um deles é a aposta exagerada no sexo ou na nudez, como se esses elementos – muitas vezes inseridos aleatoriamente e sem qualquer função narrativa ou estética – pudessem salvar um roteiro ruim. Pois não salvam, e são justamente esses padrões que preenchem a maior parte do supervalorizado “Sangue Azul”, de Lírio Ferreira.
O terceiro longa de ficção do diretor pernambucano conta a história de Zolah (Daniel de Oliveira), um garoto criado no circo a pedido da mãe, que, temendo a relação íntima que existia entre ele e a irmã (Caroline Abras), preferiu enviar o menino para viajar pelo mundo. Um dia, o circo de Zolah volta à ilha onde ele nasceu e todas as frustrações voltam à tona. A mãe está lá, fingindo que nada aconteceu, e a irmã também - noiva, é claro.
Zolah tem sua própria namorada, mas isso não o impede de transar com outras mulheres sempre que tem a oportunidade. Não é por acaso que sua função no circo é a de “homem-bala”- a comparação é ruim, mas é feita com todas as palavras por uma personagem, quando ele falha por estar pensando na irmã.
Não há surpresas ou mistérios no enredo: Zolah sente atração pela irmã e o sentimento é recíproco. Todos sabem, e todos estão preocupados demais com suas próprias relações para se importarem com o incesto. Quanto ao casal, também não há entrelinhas: ele tem medo do mar e ela é mergulhadora, portanto, quando esse pânico for vencido, eles estarão prontos para se assumirem.
“Sangue Azul” foi o grande vencedor no Festival do Rio de 2014 e também saiu premiado do Festival de Paulínia. Filmado em Fernando de Noronha, o longa tem a seu favor um cenário lindíssimo, complementado por uma sequência bastante poética de montagem do circo, logo no início. Depois de erguido o toldo, porém, o espetáculo se revela uma experiência longa e dolorosa.
Por Juliana Varella
Atualizado em 2 Jun 2015.