Filmes sobre professores já se tornaram um verdadeiro gênero à parte. Desde os anos 60, diretores de diversos países têm trabalhado para reforçar a imagem do educador como um herói moderno, capaz de promover mais revoluções do que qualquer soldado em campo de guerra. Agora, um novo título chega aos cinemas para reforçar o tema, desta vez se debruçando sobre as escolas brasileiras. “Tudo Que Aprendemos Juntos”, de Sérgio Machado, estreia no dia 3 de dezembro e merece sua atenção.
O longa é uma adaptação da peça “Acorda Brasil”, de Antônio Ermínio de Moraes, e narra uma história fictícia inspirada no Instituto Baccarelli e na Orquestra Sinfônica de Heliópolis. O protagonista é Laerte (Lázaro Ramos), um violinista que, contra a sua vontade, assume uma turma de alunos numa escola pública e acaba transformando radicalmente sua vida e a daqueles jovens.
Um dos pontos positivos do filme é que o roteiro não é ingênuo. Laerte não tem o sonho de transformar a comunidade ou combater a violência, e nem é esse o resultado do seu trabalho. Na verdade, ele só aceita o cargo porque fracassa na audição para a OSESP e, desde o início, mostra-se bastante desconfortável com a ideia de frequentar a favela. Só o faz porque descobre ser irresistível ver a evolução dos seus alunos.
O que o filme explora não é o idealismo piegas de que a música pode mudar o mundo (pelo menos não diretamente), mas sim a relação que se estabelece entre professor e alunos e entre os alunos e a aprendizagem, num ambiente em que a escola já perdeu há muito tempo sua função.
A periferia paulistana de “Tudo Que Aprendemos Juntos” poderia ser a californiana de “Mentes Perigosas” (1995) ou a parisiense de “Entre os Muros da Escola”(2008). Aqui, como ali, a autoridade precisa ser conquistada pelo professor não apenas em sala de aula como também fora dela, num equilíbrio delicado entre escola, líderes locais (traficantes, no caso) e as famílias disfuncionais dos estudantes.
Além de Ramos, que encarna com firmeza seu papel, também se destaca o estreante Kaíque de Jesus, que interpreta o aluno prodígio Samuel. Carismático e habilidoso, Samuel encanta o professor e até provoca ciúmes nos colegas de turma, o que culmina numa discreta sequência que diz muito sobre o papel do educador e o desafio de atender ao indivíduo e ao grupo simultaneamente. Nesta cena, também fica clara a carência daqueles jovens por atenção e o papel que a música (e o orgulho de tocá-la) acabará preenchendo em suas vidas.
“Tudo Que Aprendemos Juntos” tem todos os elementos nos lugares certos: o roteiro é inteligente e, apesar de ter as viradas comuns ao gênero, não soa repetitivo. Os atores, iniciantes ou veteranos, falam com naturalidade e fazem com que os contrastes entre periferia e capital não sejam forçados. A fotografia é bem trabalhada (destaque para uma sequência de combate com a polícia) e a trilha aposta numa imersão musical, como deveria ser. Ao conjunto já extenso de clássicos escolares, parece claro que Machado deve deixar sua marca, trazendo uma contribuição bastante particular. Vale 100% seu ingresso.
Por Juliana Varella
Atualizado em 27 Nov 2015.