Um dos princípios básicos para uma boa história é o conflito. Sem Coringa não há Batman, sem Zod não há Superman e, sem Magneto ou Mística ou o preconceito de humanos contra mutantes, não pode haver X-Men. O sétimo filme da saga, “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”, vem empolgando os fãs e sendo elogiado por encontrar um complicado equilíbrio entre os dois momentos da franquia, mas comete o maior crime que um filme de super-heróis poderia cometer: encontra a paz.
Dirigido por Bryan Singer e com um elenco que une os dois tempos, o novo X-Men começa no futuro próximo, mais ou menos em 2020, quando os Sentinelas estão caçando e eliminando todos os mutantes, além de humanos com potencial para terem filhos ou netos mutantes.
A resistência, formada por Xavier, Magneto e meia dúzia de X-Men, consegue sobreviver com um truque de Kitty Pride (Ellen Page): a cada ataque, ela envia um dos colegas para algumas horas ou dias no passado para que ele avise o grupo sobre o momento e o local da invasão.
O primeiro estranhamento surge aí. Apesar de ser uma boa sacada e render uma eletrizante sequência inicial, transportar a consciência pelo tempo não é exatamente o poder de Kitty. Ela atravessa paredes, mesclando suas moléculas às do objeto, e, no máximo, pode levar algumas pessoas com ela. Ela manipula a matéria, não a psique (essa distinção entre mente e matéria é feita pelo próprio filme, que sugere que a consciência ocupará um corpo mais jovem).
Digamos que ela consiga manipular também a mente, surge uma segunda questão: quem aguentaria uma “viagem” de 50 anos, para um tempo anterior à construção dos Sentinelas? A resposta, evidentemente lucrativa, é Wolverine (Hugh Jackman). Tirem suas conclusões.
De volta ao passado, o mutante tem a missão de encontrar Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender) para que convençam Mística (Jennifer Lawrence) a não matar Bolívar Trask (Peter Dinklage), o criador dos robôs. Isso porque o atentado atiçaria o ódio dos humanos contra os mutantes, impulsionando a guerra.
A premissa é sofisticada e o roteiro até inclui um comentário breve sobre teorias quânticas, que injeta certa angústia na jornada (torcemos para que elas se confirmem). O mais interessante, porém, é observar as diferenças entre os personagens nesse momento e nos outros retratados até agora. “Dias de um Futuro Esquecido” se passa nos anos 70, entre os acontecimentos de “Primeira Classe” e “Origens: Wolverine”.
Aqui, Magneto está preso, Xavier, recluso, e Mística é uma espécie de justiceira em defesa dos mutantes. Xavier consegue andar (graças a uma fórmula que faz tanto sentido quanto os poderes de Kitty Pride), mas o fato mais perturbador diz respeito a Wolverine e a suas garras. Elas ainda não foram banhadas de Adamantium e, se depender de algumas pistas deste filme, talvez nunca sejam.
Pouco se sabe sobre o futuro da franquia, exceto que haverá um novo filme em 2016 centrado no vilão Apocalipse (aguarde a cena pós-créditos). É possível que vejamos a Irmandade em ação, e já se especula sobre a participação de Gambit e Noturno nos próximos capítulos. Mercúrio (Evan Peters) foi uma das melhores escolhas da saga até agora e, sem dúvida, voltará.
Muitas perguntas são levantadas no longa, que se esquiva de fornecer respostas. O quanto da índole de alguns personagens será transformada com os acontecimentos desse tempo paralelo? Terão todos os eventos mostrados na primeira trilogia sido, simplesmente, apagados da história?
A verdade é que, ao mexer com o tempo, Singer discretamente reiniciou a franquia, abrindo caminho para começar tudo de novo, sem os erros do passado. Ou quase: seria melhor se tivesse recomeçado sem certos atores.
Assista se você:
- Gostou dos outros filmes de X-Men
- Quer ver novos mutantes em ação
- Gosta de filmes com viagens no tempo
Não assista se você:
- Não se lembra bem dos outros filmes da franquia
- Não gosta de filmes com super-heróis
- Não gosta de filmes com viagens no tempo
Por Juliana Varella
Atualizado em 26 Mai 2014.