Guia da Semana

Há dois tipos de fãs de cinema: aqueles que cultuam o original e que sentem arrepios à simples menção de um remake; e aqueles que nunca se cansam de seus ídolos, acompanhando todos os spin-offs, sequências e até fanfics que tenham alguma relação com o título inicial.

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Agora que RoboCop chega novamente às telas pela direção do brasileiro José Padilha, os ânimos dos dois grupos parecem mais exaltados do que nunca. Seja qual for o seu time, o Guia da Semana preparou um dossiê com as principais diferenças entre o RoboCop de 1987, de Paul Verhoeven, e o de 2014. Confira:

Violência

Em 1987, mostrar um membro decepado, um rosto desfigurado ou um litro de sangue falso em cena não era tão incomum quanto nos dias de hoje. Politicamente incorreto, o RoboCop de Verhoeven tinha classificação “R” (17 anos com acompanhamento dos pais) e entregava a seus fãs imagens explícitas de violência.

Já a versão de Padilha (mais por exigência do estúdio do que pelo diretor) se mantém “clean”, com muito metal amassado, câmeras afastadas e takes com a perspectiva do tiro – e não da vítima. Sua classificação, para a decepção de alguns fãs, é de 13 anos (EUA).

Consciência

No RoboCop original, Alex Murphy passa meses num laboratório acompanhando a vida à sua volta, mas sem saber quem é. Sua busca por identidade será um dos objetivos principais do filme, conquistada durante a solução do próprio crime.

Já em 2014, o policial acorda de um sonho pensando que ainda tem um corpo normal – mas desespera-se ao descobrir que está enclausurado numa armadura. Sua busca pelo controle dessa carapaça é o que conduzirá a história.

Família

Depois da violência, a família no novo Robocop é uma das maiores diferenças em relação ao original. 27 anos atrás, Alex Murphy guardava apenas lembranças de sua esposa e filho, que o esqueceram e “seguiram a vida” após pensarem que ele estava morto.

Na nova versão, a mulher do agente (Abbie Cornish) é uma das grandes pedras no sapato da OmniCorp, ameaçando contar para a imprensa que a corporação está manipulando a mente de seu marido e exigindo de Murphy que volte a ver seu filho.

Conflitos-chave

Ao ser transformado no policial mais incorruptível da cidade (mas, ao mesmo tempo, impossibilidado de prender os verdadeiros corruptos), RoboCop travou uma guerra com seus criadores e com a própria polícia, que o rejeitou.

Agora, quase três décadas depois, o conflito entre o agente e a corporação continua, mas a polícia deixa de ser tão relevante para entrar em cena o médico (Gary Oldman), que representa o dilema ético da manipulação da consciência.

Televisão

Quem roubou a cena no clássico oitentista foram os comerciais bizarros de TV, que incitavam a violência – como o de um carro comparado a um dinossauro, ou o de uma espécie de batalha naval capaz de explodir seus familiares – além de uma sátira dos sitcoms americanos, que banalizava o entretenimento e a sexualidade.

No novo filme, o destaque fica por conta do personagem de Samuel L. Jackson, que representa a manipulação da mídia – ele é um apresentador que tenta convencer os espectadores a aceitarem os policiais robóticos (influenciando, assim, as votações do congresso), mas o faz promovendo debates tendenciosos.

Além disso, a própria imagem do RoboCop ganha um peso midiático que não tinha no primeiro filme – há um novo personagem responsável exclusivamente pelo marketing, que tem a função de tornar RoboCop um garoto-propaganda da campanha pró-robôs nos EUA.

Política e ética

Nos anos 80, o reaganismo era a questão do momento nos EUA: o presidente Reagan vinha favorecendo o controle privado de órgãos públicos, desagradando a população. Essa situação aparece no filme, onde uma empresa assume o controle da segurança pública e propõe inserir robôs no lugar de policiais em Detroit.

Como consequência disso, outro problema quente da época vem à tona: a ameaça de greve dos policiais, que temem perder seus empregos com a privatização.

Nos anos 2010, as empresas deixaram de ser demonizadas e a questão que domina a década é pós-industrial: “o que fazer com a tecnologia, agora que podemos substituir praticamente qualquer parte humana por uma máquina?”

Esse problema se divide em dois focos – o uso de robôs para continuar as práticas imperialistas sem sacrificar mais soldados americanos; e a manipulação da mente de um ser humano específico (RoboCop) até que ele se aproxime de uma máquina.

Por Juliana Varella

Atualizado em 19 Fev 2014.