O que você faria se pudesse alterar ou acrescentar lembranças a sua vida? É a partir desse imaginário que se desenvolve a trama de "O Vendedor de Passados", novo longa de Lula Buarque de Hollanda, estrelado por Lázaro Ramos e Alinne Moraes. Inspirado no livro homônimo do escritor angolano José Eduardo Agualus, o filme estreia no dia 21 de maio e vai na contramão dos lançamentos comerciais do cinema brasileiro, na maioria das vezes, centrados na comédia.
Lázaro Ramos está na pele de Vicente, cuja profissão é, no mínimo, inusitada: ele vende passados a pessoas que, de alguma forma, estejam descontentes com suas vidas. Para isso, ele recria documentos, álbum de fotos e qualquer outro resquício de tudo que alguém já viveu. Até que surge Clara, Alinne Moraes, uma mulher misteriosa que, sem fornecer nenhuma informação de sua história, encomenda a Lázaro um novo passado, partindo completamente do zero. A sua única exigência é ter cometido um crime.
O pontapé inicial já é o suficiente para que o espectador se prenda à trama. Mesmo que os fatos se desenrolem com um ritmo lento, sem nenhum sinal de serem desvendados ou justificados, a curiosidade prevalece. Outro ponto interessante é a discussão que o filme traz: não só a infelicidade crônica da nossa geração, mas também a necessidade da representação. Em uma era onde a imagem é cada vez mais relevante, a alegoria é mais importante do que a essência em si.
As reviravoltas tentam manter o fôlego e conferem ao drama ares de suspense. À certa altura, não sabemos o que é real e o que não é, tampouco as consequências da obsessão das personagens. E o problema está justamente aí: em subjetividades e ambições narrativas pouco exploradas, que não deixa de tornar "O Vendedor de Passados" menos ousado, criativo e envolvente.
Por Ricardo Archilha
Atualizado em 21 Mai 2015.