No verão de 1890, uma jovem aristocrata tenta escapar de uma existência presa aos costumes sociais de sua época ao forçar o serviçal de seu pai a seduzi-la. Não é à toa que a densidade da trama lembra um dos tantos dramas de Ingmar Bergman: quem está por trás das câmeras de "Miss Julie" é Liv Ullmann, a principal musa do diretor. Depois de quase 60 créditos como atriz, Ullmann, hoje com 77 anos, apresenta seu sétimo filme, um irresistível presente aos admiradores da obra de seu mentor.
Na pele de Miss Julie, está Jessica Chastain, certamente no ápice de sua trajetória como atriz. Ao lado da protagonista, Colin Farrell, dando vida a John, em uma interpretação não menos calorosa. É a partir da performance da dupla que se desenvolve a história de um filme em que a evolução das personagens, mais do que suas ações, é o grande fio condutor.
Ao decorrer do longa, eles flertam e provocam um ao outro em um arriscado jogo de sedução. Como única testemunha, Kathleen (Samantha Morton), noiva de John e também empregada da família, assiste submissa às aventuras dos amantes. Assim, por trás de todo o combate psicológico, "Miss Julie" procura explorar as relações de classe de sua época.
Adaptação da peça homônima do sueco August Strindberg, "Miss Julie" não esconde seu tom teatral. As poucas personagens e a ausência de ambientes pode soar monótono e não funcionar para muitos espectadores. Por outro lado, é capaz de envolver e desafiar seu público. Basta saber, apenas, para que lado olhar.
Por Ricardo Archilha
Atualizado em 19 Mai 2015.