“Este personagem foi um presente para mim, um prato cheio para qualquer ator”, declarou Marat Descartes em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira, por ocasião do lançamento de “Quando eu era Vivo”. Marat é a principal peça do thriller de Marco Dutra e não poderia estar mais certo: é a loucura crescente de seu personagem, José Júnior, que faz do filme um pequeno tesouro na recente filmografia brasileira.
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Marat vive um homem que mergulha num estado de loucura enquanto vasculha o passado da família. Ele está divorciado, desempregado e brigando pela guarda do filho, por isso acaba voltando para a casa do pai viúvo (Antônio Fagundes). Lá, ele encontra antigos objetos da mãe e se reconecta a um passado cheio de mistérios que seu pai não quer encontrar.
“O filme é visto como terror porque tem alguns símbolos do gênero, como a possessão, um ambiente malévolo, mas o livro é absolutamente psicológico”, explica Fagundes, que se dedicou às filmagens nos intervalos entre outros trabalhos no teatro e na televisão. “O terror aparece porque a situação é terrível: há uma incomunicabilidade naquela família”, analisa o ator.
A construção do cenário contribui para criar o clima de terror. “O apartamento se transforma junto com Júnior, como se adoecesse com ele. Pensamos cada objeto para ter uma importância no trajeto – dos papéis de parede aos quadros”, descreve Dutra, satisfeito. O perfeccionismo dos espaços surpreende para um projeto que foi gravado em apenas 18 dias.
Para a roteirista Gabriela Amaral Almeida, a escolha do gênero tem a ver com a história e com o momento que vive o país. “O horror existe como uma forma de alegorizar dramas numa sociedade em que só há explicação racional para as coisas. E acho que estamos passando por essa fase no país, uma relativa e maquiada estabilidade”. O gênero, para ela, acaba gerando muitos filmes superficiais, mas também tem o potencial para provocar sentimentos intensos e reflexões. Afinal, qual é o medo do pai de José: os espíritos que ele traz com ele ou suas memórias?
Quem ajuda o protagonista a investigar esse passado é uma estudante de música, interpretada por Sandy Leah. Apesar de ser uma das principais “armas” publicitárias do filme, a atriz/cantora jura que sua personagem não deve ser o centro das atenções: “O papel da Bruna é o de levantar. Ela levanta para o personagem do Marat, depois para o do Fagundes, e deixa os dois se virarem, porque o drama é da família, não dela. Eu quis ser discreta e entregar o que me foi pedido, da melhor forma possível”.
Se Sandy tem uma participação essencial, porém discreta, Tuna Dwek faz de seus limitados minutos um turbilhão de emoções. A atriz vive a nova namorada do personagem de Fagundes, que tem um encontro violento com o já enlouquecido Marat. “Filmamos aquela cena de primeira, não podíamos errar. Antes de começarmos, Marat entrou num estado de concentração impressionante, começou a respirar alto e me deixar com medo, de verdade. Isso fez com que a cena ficasse mais real”, descreve.
“Quando eu era Vivo” é inspirado no livro “A Arte de Produzir Efeito sem Causa”, de Lourenço Mutarelli (autor, também, dos livros que deram origem a “O Cheiro do Ralo” e “Natimorto”). O filme estreia nesta sexta-feira, dia 31 de janeiro.
Por Juliana Varella
Atualizado em 29 Jan 2014.