Quando a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo começar, no próximo dia 20, prepare-se para brigar por uma chance de assistir em primeira mão ao novo longa de Paul Verhoeven. “Elle”, candidato francês ao Oscar 2017, promete ser um dos mais concorridos na programação, mas, para quem preferir evitar filas e horários ingratos, a boa notícia é que o filme estreia comercialmente pouco depois, no dia 17 de novembro.

Verhoeven, diretor holandês, carrega uma filmografia bastante diversa, transitando sem hesitar entre ficções científicas cultuadas como “RoboCop”, “O Vingador do Futuro” e “Tropas Estelares” até suspenses carregados de sensualidade, como “Showgirls” e “Instinto Selvagem”. É mais próximo destes últimos que se situa “Elle”.

O filme estrela Isabelle Huppert no papel de Michele, uma empresária, dona de uma desenvolvedora de games, que sofre um estupro dentro de casa. Apesar do peso desse evento inicial, isso parece ser só o ponto de partida para apresentar uma personagem fora de qualquer padrão: uma mulher cética, associada desde a infância a um crime hediondo cometido pelo pai, que perdeu a confiança na polícia e cultivou um olhar frio e impiedosamente honesto sobre a vida – inclusive sobre a violência que ela mesma sofreu.

É curioso como Verhoeven explora as expectativas do público e as distorce a cada cena, gerando uma tensão crescente. Espera-se, por exemplo, que a protagonista fique aterrorizada pelo perigo que corre, mas isso não acontece. Espera-se que ela poupe amigos e parentes de algumas verdades inconvenientes, mas ela não poupa ninguém. Nada é tão sensível que não possa ser confrontado de frente, de cabeça erguida. A verdade é que poucos personagens do cinema conseguiram ser tão seguros e imprevisíveis quanto Michele.

“Elle” é a adaptação do romance francês “Oh...”, de Philippe Djian e, antes de entrar para a corrida do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, também concorreu à Palma de Ouro. Além de Huppert, também estão no elenco Laurent Lafitte, Anne Consigny e Virginie Efira.