Você já parou para pensar como o Hugh Jackman se transformou no Wolverine ou no Jean Valjean, em Os Miseráveis? Ou então como os atores de Avatar se transformaram naqueles seres azuis? O cinema nos deixa tão envolvidos com a trama que esses detalhes acabam passando despercebidos por nossos olhos. Porém, este é um trabalho em conjunto feito pelo diretor, pelos atores, pelo diretor de arte, o figurinista e o maquiador, que coloca a mão na massa.

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Isso é o que explica Siva Rama, maquiadora responsável pela caracterização de filmes brasileiros como O Cheiro do Ralo, Sudoeste, Meu País, Os Desafinados e de séries de TV como Oscar Freire 279, do Multishow, entre muitos outros.

“Tem diretores que já chegam com uma ideia preconcebida da caracterização e depois chega o ator com outra. Acho que o que eu mais faço é ajustar todas as ideias de cada departamento (direção, atores, direção de arte, figurino) e trabalhar a curva dramática de cada personagem”, explica.


Siva maquiando o ator Paulo José para o filme Meu País (Foto: Felipe Gonçalves)

Outra curiosidade do trabalho do maquiador são os materiais usados que nem sempre são cosméticos. “A gente chama de ‘kit sujeira’”, conta Siva. “Nesse kit tem carvão ralado para sujar debaixo das unhas, argila para misturar com água e fazer craquelado ou sujeira com resíduo”, completa.

Já para envelhecer um personagem, Siva gosta de começar pelos cabelos, fazendo fios grisalhos com pigmento prateado. “Sempre que preciso envelhecer alguém tenho que lembrar todo mundo que uma pessoa de 40 anos não tem a cara toda enrugada e que a passagem dos quarenta para os 60 anos não é como de 30 para 80 anos”, diz. “As rugas entram mais devagar, o cabelo vai esbranquiçando bem mais lentamente do que imaginamos e, por outro lado, no cinema, sempre estamos empregados a contar uma história, então às vezes a gente assalta a realidade só pra poder contar uma história e mente”, afirma.

Siva diz também que as pessoas costumam ficar curiosas sobre como fazer sangue artificial e dá a receita. “Eu tenho uma receita de sangue comestível que todo mundo pode fazer e ainda tem gostinho bom: anilina de bolo vermelha líquida e mel karo. Mistura tudo e pode por na boca e brincar de conde Drácula”, revela.

Para entrar no clima do Oscar, que acontece em 24 de fevereiro, a maquiadora Siva Rama deu sua opinião sobre os indicados na categoria Melhor Maquiagem e contou quais são as cinco melhores makes do cinema para ela. Confira:

Indicados ao Oscar de Melhor Maquiagem

Anne Hathaway cortou os cabelos para viver a prostituta Fantine, em Os Miseráveis

Os Miseráveis
A maquiagem de Os Miséraveis é incrível! Sempre gostei deste musical e achei lindo como eles levaram o universo da caracterização teatral para o cinema. Um pouco das formas e cores do teatro trabalhadas em testuras para cinema. As prostitutas são uma obra prima e contou ainda com o bônus da Anne Hathaway, que cortou seu cabelo de verdade, o que a fez ter ainda mais força papel.

Hitchcock
Adorei o humor do filme Hitchcock e me senti aliviada em poder ouvir a voz do Hannibal sem ver a cara do Anthony Hopkins que passa o filme todo escondido atrás de próteses e enchimentos.

O Hobbit: Uma jornada inesperada
O Hobbit é uma obra prima de caracterização, é indiscutível, mas estou cansada dessa saga. Por isso prefiro dos três indicados para maquiagem Os Miseráveis, pelo lúdico, pela diversão colorida, pelo belíssimo trabalho de transportar a linguagem do palco para as telas do cinema tão elegantemente.

Faço um adendo para o filme norueguês Kontiki, indicado na categoria Melhor Filme Estrangeiro. Amei conhecer essa história real e ver a maquiagem naturalista maravilhosa que segue as curvas dramáticas da época retratada no filme tão lindamente. Argo também esbarra em temas importantes, o cinema e a CIA, já que os maquiadores na metade do século passado foram muito procurados para desenvolverem próteses para modificar completamente e camuflar as feições de seus agentes secretos infiltrados na Guerra Fria.

Top 5 melhores caracterizações do cinema, por Siva Rama


Charlize Theron em uma incrível transformação no filme Monster

Satyricon (1969), Federico Fellini
A direção de arte me encanta como um todo (cenário, figurino e maquiagem) sempre vai me servir de inspiração! Amo Fellini, mas tenho carinho especial por este filme.

Pulp Fiction (1994), Quentin Tarantino
Foi um filme que me marcou. Aquele monte de peruca, sangue, siluetas de época nos cabelos sem estar no contexto de época...

Planeta dos Macacos
Gosto tanto do original, de 1968, quanto do remake, de 2001.

Zombie – O Despertar dos Mortos (1978), George A. Romero
O primeiro filme de zumbi que assisti na vida e que gosto até hoje. Foi nele que comecei a tentar entender maquiagem de efeito.

Monster – Desejo Assassino (2003), Patty Jenkins
Gosto da caracterização naturalista e do fato de uma atriz linda se transformar em um corpo gordinho com cabelos maltratados e com a pele toda cheia de sardas e manchas. Gosto quando o melhor da maquiagem está no detalhe sem se sobressair do todo da cena. Maquiagem boa é aquela que o espectador não percebe.

Confira uma maquiagem feita pela Siva inspirada em Os Miseráveis: