O cinema nacional vem vivendo uma espécie de renascimento nos últimos anos, arriscando-se (finalmente) fora do óbvio lucrativo de comédias novelescas e dramas policiais. Não que estes não continuem se proliferando e dominando as bilheterias, mas existe, hoje, espaço maior para outras discussões. Uma delas é a de Paulo Morelli, sobre autoria e ética, no suspense “Entre Nós” que estreia esta semana nos cinemas.
O filme conta a história de sete amigos, aspirantes a escritores ou críticos literários nos seus 20 anos, que se encontram numa casa de campo para beber, paquerar e enterrar suas memórias na terra. Durante um fim de semana sabático, cada um escreve uma carta para si mesmo, que será aberta dez anos depois. Ao final da viagem, porém, uma tragédia acontece.
O estranhamento de ver um grupo de atores adultos agindo como adolescentes tardios (numa versão oitentista de Woodstock) dura pouco e, logo, somos transportados no tempo para a mesma casa, uma década depois. Os ânimos estão menos exaltados e pouco se fala sobre “o acidente”.
Um dos personagens em especial (Caio Blat) parece querer evitar o assunto, por razões bastante óbvias para o espectador, mas obscuras para seus colegas. Enquanto o momento da abertura das cartas se aproxima, a situação vai ficando insuportável – tanto para o portador do segredo quanto para os outros amigos (Carolina Dieckmann, Paulo Vilhena, Maria Ribeiro, Júlio Andrade e Martha Nowill), por razões que envolvem antigas paixões e sonhos falidos.
“A primeira frase do livro deve ser a mais impactante”, discursa um dos protagonistas entre os primeiros dez minutos de filme. Curiosa afirmação, já que o roteirista do longa escolheu “É foda” como sua frase de abertura. Coisas de quem quer chocar a todo o custo, inseguro quanto à capacidade do público de captar sutilezas.
É a vontade de se fazer compreendido a qualquer custo que enfraquece os conflitos, bastante ricos a princípio. Entendemos que os personagens estão sofrendo, estão confusos quanto ao que é certo e errado, estão arrependidos. Mas não sobra espaço para a dúvida e o suspense se reduz a uma espera pelo momento da revelação – ou não. Nada inesperado acontece para que o público se surpreenda, e o resultado é uma reflexão de mão única. Instigante, mas previsível.
Assista se você:
- Quer ver um filme nacional diferente
- Gosta de literatura e se identifica com personagens escritores
- Procura um suspense sem violência ou sustos
Não assista se você:
- Procura uma comédia para relaxar
- Não gosta de suspense ou drama
- Quer ver um filme com viradas surpreendentes
Por Juliana Varella
Atualizado em 29 Mar 2014.