Alberto Araújo é jornalista, poeta, escritor e agora já pode acrescentar mais um título ao seu currículo: o de diretor de cinema. Nesta sexta-feira, 22 de novembro, estreia em diversas cidades do país seu primeiro longa-metragem, “Vazio Coração”, com Murilo Rosa e Othon Bastos.
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Orgulhoso, porém cansado com a maratona de quatro anos para captar recursos e produzir o filme, além de outros dois para conseguir distribuí-lo no circuito comercial, Araújo conversou com o Guia da Semana e contou como tirou sua ideia da cabeça e a transformou num longa-metragem.
Leia a entrevista:
Este é seu primeiro longa. Quais foram as dificuldades pra produzir e para colocá-lo no circuito?
É engraçado porque eu fiz um curta na vida, que foi exatamente em Araxá há 23 anos. Eu achava que no ano seguinte ia fazer um longa... Quando veio a era Collor e baniu o cinema, eu aproveitei que era jornalista e migrei para a televisão. Voltando para o cinema agora, acho que o grande desafio mesmo começou nas leis de incentivo, na captação de patrocínios... ”. A próxima dificuldade foi conseguir lançar – o filme foi rodado em 2011, então batemos de porta em porta nas distribuidoras para não deixar que ele ficasse engavetado. Muita gente falou: “Guarda seu filme para outro momento. Escreve uma comédia que é isso que está dando dinheiro”. Foi ainda mais difícil por eu ser um diretor fora do eixo Rio-São Paulo. Para se ter uma ideia, o último longa-metragem rodado por um diretor radicado em Goiás foi há 44 anos! Foi João Bênio, “O Diabo Mora no Sangue”.
E por que você acha que isso aconteceu agora?
Olha, sabe aquela coisa de “não sabia que era impossível, foi lá e fez”? Foi assim... Quem me ajudou muito foi Débora Torres, nossa produtora executiva, que sempre foi uma mulher ligada a cinema e teatro e ajudou a tornar as coisas possíveis. Também foi essencial a presença do Murilo [Rosa], que se tornou co-produtor.
O Murilo Rosa foi uma escolha sua?
O primeiro nome que eu decidi foi o Othon [Bastos]. Ele mostrou o roteiro para o Murilo, que se interessou e veio até nós. Ele veio com tudo e queria muito fazer esse papel. Ele acreditou num diretor principiante e eu acreditei num cantor principiante. Passei quatro anos correndo atrás de recursos sem ouvir o Murilo cantar, mas fiquei satisfeito com o resultado.
Você se inspirou em alguém para criar o personagem do pai?
Eu achava que não. Mas comecei a notar semelhanças do personagem com meu pai. Sou filho de um homem muito simples do interior de Minas, mas também muito sábio. Ao mesmo tempo, ele é sistemático: cheio de “não me toques”. Um dia, passei pela casa dele, aproveitando que precisava resolver questões do filme em Araxá. De início ele nos recebeu feliz, mas, assim que descobriu que estávamos viajando por outro motivo e não exclusivamente para vê-lo, ele levantou, saiu, acabou o dia dele. Esse lado existe no personagem do Othon. Agora, para compor isso com o personagem intelectual, tive a ajuda de um ídolo: João Cabral de Melo Neto. Conheci sua família e fiquei sabendo de detalhes sobre sua personalidade. Por exemplo, soube que um dia João Cabral disse a Vinícius de Morais: “Que negócio é esse de Garota de Ipanema?” – mostrando um preconceito com a poesia popular que também existe no filme.
Agora que você já entrou no mercado do cinema, quais são seus próximos passos?
Eu tenho alguns projetos. Vou ajudar nossa produtora executiva Débora Torres a rodar uma história sobre Dona Beja [personagem histórica mencionada em “Vazio Coração”]. Além disso, tenho vários roteiros que podem ser transformados em filme, como um romance que vou lançar agora, “O Intervalo do Vaga-lume”. Se fizer outros filmes, com certeza serão sempre nessa linha das relações humanas. Mas confesso que preciso dar uma respirada. A indústria do cinema é muito cansativa.
Por Juliana Varella
Atualizado em 22 Nov 2013.