Guia da Semana

Estreia nesta quinta-feira, 4 de agosto, mais um filme de super-heróis – ou quase isso. “Esquadrão Suicida”, integrante do universo DC Comics (o mesmo de Batman, Superman e Mulher Maravilha), reúne alguns dos principais vilões de Gotham City numa missão secreta orquestrada pelo governo americano, que decide explorar suas habilidades como uma arma contra eventuais inimigos que meros soldados não possam combater. Pense num Superman com más intenções, ou nos “meta-humanos” apresentados em “Batman vs Superman”. E considere que foi exatamente esse pensamento que levou o morcegão a lutar contra a pessoa errada no longa anterior.

O filme, aliás, se passa imediatamente após os eventos daquele, mencionando a tragédia que ocorre ali como a razão para o recrutamento desses criminosos. Quem comanda a operação é Amanda Waller (Viola Davis), que funciona muito mais como uma vilã inescrupulosa do que como a heroína do filme. Quanto aos membros do “esquadrão”, esses sim são os heróis (ou anti-heróis, se é que há algum resquício de maldade ali) de uma aventura que fica no meio do caminho entre um divertido pipocão da Sessão da Tarde e um pretensioso blockbuster que tenta desesperadamente agradar a gregos e troianos.

Com tantas expectativas e promessas em jogo, saiba o que realmente esperar do longa de David Ayer e decida se esta estreia vale o seu ingresso:

Coringa? Que Coringa?

Foram meses de notícias, fofocas e declarações do elenco sobre a preparação extrema do ator Jared Leto para viver o novo Coringa nas telas. Ciente da responsabilidade que seria assumir um papel que já fora de Jack Nicholson e Heath Ledger, Leto supostamente encarnou o personagem até fora do set, provocando os colegas com presentes maliciosos e ganhando até uma ordem de restrição de Viola Davis. Todo esse circo nos bastidores, contudo, não se reflete na tela: pelo contrário, o personagem pouco aparece e, quando o faz, não rouba a cena como se esperaria depois de tanto bafafá.

A Arlequina de Margot Robbie

Um dos elementos mais fortes do filme é a personagem Arlequina, interpretada por Margot Robbie. Ex-psiquiatra de Coringa em Arkham, ela é torturada e manipulada por ele até se transformar na assassina louca que vemos em cena. Sua personagem não é apenas a bonequinha sexy que as centenas de cosplays e colecionáveis fazem crer (e que seus polêmicos shorts-calcinha sugerem), mas é uma mulher sem filtros, que não se importa com regras ou códigos sociais, que valoriza coisas banais e sabe se divertir como ninguém. E é uma mulher emocionalmente dependente de um relacionamento abusivo, o que lhe dá uma camada muito mais humana e complexa, que foge do padrão atual de “personagem feminina independente e onipotente”.

Will Smith e seu (eterno) papel de protetor

Will Smith interpreta o Pistoleiro, um atirador mercenário com uma pontaria impecável e uma moral que se esconde, literalmente, sob uma máscara quando ele decide matar. Sua fraqueza é uma filha de 11 anos e um código de ética dos mais clichês: ele não mata mulheres e crianças. Seu personagem assume um papel de liderança entre os vilões e ele tem uma relação mais próxima com o oficial que os acompanha (Rick Flag, vivido por Joel Kinnaman), por se identificar com seu instinto protetor. Já vimos isso antes?

O lado menos conhecido do Esquadrão

Como muitos filmes com um grupo grande de protagonistas, “Esquadrão Suicida” sofre com a falta de desenvolvimento de seus vilões-heróis. Boomerangue (Jai Courtney), Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje) e Katana (Karen Fukuhara) nunca têm a chance de sair do segundo plano e alguns detalhes sobre seus personagens (como um unicórnio guardado por Boomerang ou o fato de que a espada de Katana pode sugar almas) não ganham o desenvolvimento apropriado e parecem “sobrar” no roteiro.

Por outro lado, El Diablo (Jay Hernandez) ganha rapidamente a simpatia do espectador e tem um arco bem amarrado, enquanto Magia (Cara Delevigne) decepciona ao assumir um papel muito maior do que é capaz de segurar.

Estilo x conteúdo


Como os trailers e o material de divulgação já anunciavam, o visual e a trilha sonora de “Esquadrão Suicida” são seus maiores trunfos, mas até nisso a produção dá seus escorregões. Se o figurino e a fotografia fazem deste um dos filmes mais atraentes do ano, os efeitos visuais não acompanham no mesmo ritmo: há falhas visíveis na construção das criaturas fantásticas e nos poderes mágicos, nos quais o filme se apoia muito mais do que deveria. Já sobre a trilha, ela funciona bem na primeira metade, mais musical e próxima do tom dos trailers, mas perde a criatividade quando começa a ação e assumem os acompanhamentos épicos e melodramáticos.

Psicologia x fantasia


Se a sua expectativa era assistir a um filme mais psicológico, sobre um grupo de criminosos loucos e perturbados, lidando com conflitos morais enquanto são obrigados a trabalharem para seus inimigos, saiba que esta é a menor parte do enredo. O foco, mesmo, é a fantasia, no maior estilo “anos 90”: espere ver um grande pilar luminoso sobre uma estação onde algum tipo de ritual acontece, cercado por capangas que os “heróis” precisam enfrentar para impedir que o verdadeiro vilão destrua o mundo com seus poderes mágicos. Mas espere: não era esse o filme que você esperava? Pois é: agora você sabe.

Por Juliana Varella

Atualizado em 7 Ago 2016.