Estreia na próxima quinta-feira, 6 de outubro, um filme que nem parece verdade. “Festa da Salsicha", criado pela dupla Seth Rogen-Evan Goldberg (“É O Fim”, “A Entrevista”), é uma comédia de animação adulta e sem filtros sobre uma salsicha e um pão de cachorro-quente que sonham em sair de suas embalagens para, finalmente, poderem entrar um no outro.
Como vocês podem perceber pelo título e pela trama principal, o filme não tem nada de infantil e a pornografia só não é mais explícita porque os personagens são simpáticos e inocentes alimentos industrializados. No “elenco”, também estão um bagel judeu e um pão sírio que não conseguem conciliar suas diferenças religiosas, um taco mexicano lésbico, uma aguardente com conhecimentos xamânicos, um chiclete-gênio e uma ducha íntima que faz as vezes de vilão.
O filme é como uma versão adulta e de gosto duvidoso de filmes infantis que dão vida a objetos inanimados: depois de descobrirmos o que os brinquedos e os animais domésticos fazem quando não estamos por perto, é hora de saber como seria a vida de alimentos que compramos no supermercado, se eles tivessem consciência. O resultado, é claro, não é nada bonito.
Como os humanos, os alimentos reagem incialmente com a negação de seu destino ingrato. Seus compradores são vistos como deuses e a compra, como o caminho para o paraíso. Quando um deles finalmente descobre que o “outro lado” é sinônimo de tortura e morte, começa uma grande aventura em busca da verdade e da sobrevivência.
Enquanto se esbalda no absurdo de seu universo alucinógeno, “Festa da Salsicha” tenta arranhar temas mais polêmicos, alfinetando especialmente o fanatismo religioso, seus tabus e suas visões de mundo baseadas em mitos – que, no filme, são tratados literalmente como histórias inventadas por líderes drogados.
As críticas, porém, não levam a nenhuma reflexão mais profunda e acabam soando aleatórias, assim como tudo no filme. Falta uma história coerente para amarrar todas as esquetes e, mesmo que algumas sejam bem sacadas, a sensação geral é de estar assistindo a uma brincadeira entre amigos e não a um longa-metragem profissional.
“Festa da Salsicha” certamente merece crédito pela autenticidade, mas não tanto pelo humor. Na versão em português, as piadas foram traduzidas e adaptadas pelo grupo Porta dos Fundos, mas nem era preciso: o humor não é politizado o suficiente nem incisivo o suficiente para precisar de uma versão local e, verdade seja dita, nem é engraçado o suficiente para merecer o investimento. É claro que existe a possibilidade de que a própria tradução tenha prejudicado o filme, mas isso é bastante improvável. No fim das contas, a tão polêmica e cara-de-pau animação não passa de mais um besteirol americano, que um dia servirá para passar o tempo num domingo de preguiça e nada mais.
Por Juliana Varella
Atualizado em 7 Out 2016.