Alguns filmes são verdadeiros espelhos do seu tempo. No caso dos anos 2000, poucos diretores compreenderam tão bem esse tempo quanto Jason Reitman, que denunciou as contradições da indústria tabagista (“Obrigado Por Fumar”, 2005), explorou a consciência de uma adolescente grávida (“Juno”, 2007) e compreendeu os sentimentos de um homem sem lar (“Amor Sem Escalas”, 2009). Agora, diante de uma sociedade cada vez mais virtual e egocêntrica, Reitman apresenta seu novo tapa-na-cara: “Homens, Mulheres e Filhos”.
O filme escolhe o pessimismo como ponto de partida. Desde a primeira imagem, a ideia é de que estamos sozinhos no universo. O amigável satélite contendo música e sons humanos jamais foi interceptado e a Terra é apenas um pálido ponto azul no canto do Universo.
Essa descrição poética do planeta feita pelo astrofísico Carl Sagan nos anos 90 é descoberta por um dos personagens com a ajuda do Youtube. Ele é Tim Mooney (Ansel Elgort, de “A Culpa é das Estrelas”), um adolescente cuja mãe acabou de se mudar para a Califórnia para começar uma nova família com um novo homem. Decidido a eliminar de sua vida tudo o que não tem sentido, Tim abandona o time de futebol americano e passa a dedicar suas noites a um RPG online.
Além do jogo, os interesses do garoto se voltam para uma menina, que parece tão perdida quanto ele no universo fútil do colegial. Essa é Brandy (Kaitlyn Dever), uma leitora ávida com espírito gótico controlada a cada passo pela mãe (Jennifer Garner) – que analisa suas redes sociais diariamente, monitora suas mensagens de celular e mantém um GPS conectado ao telefone. Ela acredita estar protegendo a filha, mas, como todos os pais retratados no filme, não faz a menor ideia de como fazer isso certo.
Além das duas, três outras famílias são protagonistas desta história fragmentada. Adam Sandler e Rosemarie DeWitt formam um casal em crise cujo filho (Travis Tope), mais ou menos como o pai, é tão viciado em pornografia que não consegue sentir prazer com uma garota real.
Essa garota é Hannah (Olivia Crocicchia), uma cheerleader que tem seu próprio website, onde vende fotos sensuais clicadas pela mãe (Judy Greer). Com sua reputação, Hannah não pode se dar ao luxo de ser virgem, por isso tenta conquistar um menino que lhe dê atenção e, ao mesmo tempo, não “pegue mal” na escola, quando todos descobrirem o affair.
Hannah se gaba diante de Allison (Elena Kampouris), uma menina de 15 anos que, ao que parece, perdeu dezenas de quilos nas férias só para ter uma chance com o garoto dos seus sonhos – um menino que a trata mal. A anorexia da jovem é ignorada pelos pais, que parecem mais preocupados com a vida sexual da filha (ou a preferível ausência dela).
As angústias das cinco famílias se entrelaçam e se intensificam, mas não encontram, necessariamente, respostas. Reitman, é claro, não ignora o lado positivo da internet, mas joga uma lente de aumento sobre seu lado sujo, colocando o dedo em questões pouco discutidas no cinema e no dia-a-dia dessas famílias.
No centro desse turbilhão está a forma extrema como os adolescentes encaram essa plataforma de comunicação, que abre a eles um mundo além da casa e da escola. Esse mundo pode ser tão benéfico quanto perigoso, mas exige dos pais atitudes que estão além de sua compreensão – a maioria deles, afinal, não passou por nada parecido nos seus anos escolares.
Há uma barreira tecnológica óbvia entre pais e filhos, mas o filme vai além disso. Há uma barreira entre homens e mulheres, entre jovens e outros jovens, entre pessoas e seus sentimentos. A internet, como o satélite perdido, é apenas um instrumento para toda essa insegurança crônica do mundo.
Assista se você:
- Gostou dos filmes anteriores de Jason Reitman
- Quer ver um filme que fale sobre a sociedade contemporânea
- Gosta de filmes com diversas histórias amarradas
Não assista se você:
- Procura um filme leve e despretensioso
- Não gostou dos filmes anteriores de Jason Reitman
- Não gosta de filmes reflexivos, sem respostas
Por Juliana Varella
Atualizado em 1 Out 2014.