Alguns talvez chamem de obsessão, outros de vingança, um louco amor ou até mesmo insanidade. Se é que existem, podem ser muitas as justificativas para os atos de Dr. Robert, personagem frio e calculista interpretado por um sério e nada galã Antonio Banderas em A Pele que Habito.
A nova produção de Pedro Almodóvar depois do desastroso Abraços Partidos (2009) traz uma história tensa, um terror dramático. A experiência ousada do cineasta no gênero originou algo bem diferente do que estamos acostumados a ver nos longas hollywoodianos, sem gritos ou sustos, mas angustiante.
Numa película sem tantas cores (como é de costume nos filmes de Almodóvar), e cheio de referências e ecos da literatura (impossível não pensar em Frankenstein, personagem criado por Mary Shelley entre 1816 e 1817), o cineasta se reinventa sem deixar de lado suas obsessões com traição, sexualidade, solidão e morte. Tudo temperado com mistério, ficção científica e uma construção não-linear que deixa o espectador ansioso pela próxima revelação. Revelações essas que limitam o que pode ser contado sobre o filme, afinal, o legal mesmo é ser surpreendido no meio da sessão.
Na história, Banderas dá vida ao Dr. Robert Ledgard, um cirurgião plástico famoso pelos transplantes de face; ele utiliza a pele humana como um pintor utiliza a tela. Literalmente. Robert é atormentado pela perda de Gal, sua mulher, que morreu após sofrer graves queimaduras num acidente de carro. Por isso, se dedica insanamente a criar uma pele superresistente, com a qual a esposa teria sobrevivido.
Anos de estudos lhe dão conhecimento para isso e a falta de escrúpulos, coisa que nunca foi problema para Robert, não o impede de conseguir a cobaia. Essa é Vera (Elena Anaya), uma figura que é moldada e transformada ao longo dos experimentos. E como a história pedia um cúmplice, Marília (Marisa Paredes), uma velha conhecida, foi a pessoa escolhida.
Assim, um quarto da mansão El Cigarral se transforma em cativeiro para a criatura do monstruoso Dr. Ledgard. A bela moça passa anos isolada num quarto, lendo, praticando yoga e sendo vigiada bem de perto por câmeras. No entanto, mesmo perdendo o maior órgão de um ser humano - a pele -, Vera se esforça para aprender a viver dentro do órgão que lhe foi imposto e para manter a sanidade, a fim de não esquecer sua verdadeira identidade.
Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2011, A Pele que Habito pode causar um certo desconforto e estranhamento nos amantes do estilo Almodóvar de fazer cinema, no entanto, vale a pena apreciar essa bela obra de um dos grandes cineastas da atualidade.
Confira no trailer abaixo uma prévia do filme.
Por Mariana Viola
Atualizado em 10 Abr 2012.