O que nos leva a assistir ou ler uma biografia? Certamente, não é apenas a realidade dos fatos – humanos e sem brilho; mas tampouco é a fantasia pura, exaltada e inverossímil. O que instiga é o equilíbrio nebuloso entre a pessoa e o personagem, dois seres opostos amarrados numa história tão incrível que às vezes parece falsa, mas construídos com virtudes e defeitos que os fazem respirar como um só. O que falta, então, ao retrato de Louis Zamperini dirigido por Angeline Jolie para as telonas?
“Invencível”, baseado no livro de Laura Hillenbrand, narra a vida do imigrante italiano que começou a correr para fugir dos guardas, depois foi treinado pelo irmão até vencer as Olimpíadas, em plena Alemanha Nazista. Ainda durante a Segunda Guerra Mundial, o biografado atuou como bombardeiro no ataque ao Japão e, depois de sobreviver à deriva por 47 dias, acabou prisioneiro de guerra em Tóquio, onde antes sonhava em disputar sua segunda Olimpíada.
A história de Zamperini tem todos os altos e baixos de uma grande jornada, oferece material para uma boa discussão sobre os valores da guerra em contraste com os do esporte e ainda tem o apelativo elemento “superação”, que o público adora. O que poderia dar errado?
Apesar de o atleta/soldado ser interpretado com garra pelo ainda pouco famoso Jack O’Connell – talvez o melhor ingrediente do filme -, o Zamperini de Jolie não consegue respirar. Pintado nas telas como um super-herói, o italiano naturalizado americano não erra, não mente, não falha – exceto por culpa dos “inimigos”, os excessivamente caricaturados japoneses.
À frente do campo de concentração nipônico, onde o protagonista passa a última parte de sua longa provação, está o cantor de j-pop Takamasa “Miyavi” Ishihara, um ator jovem e cheio de estilo, mas que não consegue dar ao personagem a credibilidade que ele exige. A ausência de motivações para seu comportamento sádico fazem dele um vilão genérico, 100% mau e irreal. Quanto aos outros japoneses, falta-lhes um mínimo de humanidade para que sejam relevantes ao filme.
É interessante notar como Jolie e Hillenbrand exploram esse universo exclusivamente masculino que é a guerra. Ao invés de glorificarem a batalha e a vitória, elas voltam seus olhares para o indivíduo e para o instinto básico de sobrevivência, desenvolvendo um personagem que se animaliza aos poucos.
O longa é visualmente impecável e não economiza nas cenas de tortura, funcionando como uma eficiente propaganda anti-guerra. Ao mesmo tempo, porém, é uma propaganda contraditória e unilateral, que não pratica no roteiro o que prega na cena inicial, quando mostra um pastor falando sobre o perdão e o respeito.
Quem procura uma história de vida inspiradora encontrará em “Invencível” a sessão perfeita e sairá satisfeito, com razão. Quem deseja saber mais sobre o verdadeiro Louis Zamperini, entretanto – o homem com carne, osso e defeitos - não encontrará mais do que um aperitivo. E dos mais clichês.
Por Juliana Varella
Atualizado em 8 Jan 2015.