Adaptar uma obra de José Saramago não é apenas fazer um filme. Traduzir em imagens as palavras do escritor português significa mergulhar na psique do homem moderno, em seus medos e obsessões, e muitas vezes sair daquela experiência sem respostas. Dennis Villeneuve, diretor de “Os Suspeitos”, encarou o desafio e escalou novamente Jake Gyllenhaal para a tarefa, cujo resultado chega agora aos cinemas em “O Homem Duplicado”.
Desde o sexualmente tenso ritual inicial, o espectador é transportado para um universo novo – que à primeira vista parece igual ao nosso, mas tem algo de estranho. O tempo corre, se repete e se mistura. Não temos certeza se Adam – o protagonista vivido por Gyllenhaal – está aqui ou ali, se é ontem ou hoje. Já não ouvimos aquela aula?
Adam é professor de História numa universidade canadense e tem uma namorada ocasional chamada Mary (Mélanie Laurent). No momento em que o encontramos, ele ensina visões de Hegel e Marx sobre a persistência da história: segundo eles, os grandes atos sempre se repetem, primeiro como tragédia, depois como farsa. Isso guia nosso olhar para os próximos acontecimentos.
Numa tarde, sem nenhum motivo aparente, outro professor recomenda um filme a Adam e esse o aluga, para assistir sozinho. Enquanto dorme, ele se lembra de um detalhe que o intrigara e acorda para conferir: sim, um dos figurantes era exatamente igual a ele. Mas ele está sonhando ou acordado?
O ator, que ele enfim encontra, chama-se Anthony e também não sabe da existência de Adam. Ele é casado com Helen (Sarah Gadon), que está grávida, e não reage bem às aproximações do sósia. Uma série de questões começam a se levantar sobre o dilema do duplo: será possível conviver com a ideia de não ser único? As parceiras dos dois homens poderão reconhecer seus pares? Haverá mesmo dois homens e duas mulheres? Qual deles será a tragédia, e qual é a farsa?
A curiosidade logo dará lugar ao medo e à violência e novas perguntas entrarão em cena. Helen assume um papel central, como se soubesse mais do que o próprio protagonista, e o espectador começa a tentar montar algumas peças, em vão. O filme é pontuado por uma figura simbólica, horripilante, que aparece para lembrar que aquela não é uma história literal.
Para dominá-la, é preciso ter a chave. O sentido virá depois.
Assista se você:
- Gosta de filmes desafiadores
- Gostou do romance de Saramago
- Gosta de filmes que terminam em dúvida, não em resolução
Não assista se você:
- Não gosta de filmes difíceis
- Procura um filme leve e com um final satisfatório
- Não gosta do livro
Por Juliana Varella
Atualizado em 21 Jun 2014.