Há uma graça quase ingênua na forma como o jornalismo costuma ser retratado no cinema. É sempre uma profissão nobre, com senso de justiça acima de todas as outras. Coisa digna de super-heróis. Mas você já esteve numa redação? Então esqueça Clark Kent e seja bem vindo ao mundo real.
Não poderia haver nome mais adequado ao filme de estreia de Dan Gilroy que “O Abutre”. Seu protagonista Lou Bloom (Jake Gyllenhaal) caça tragédias nas noites quentes de Los Angeles, buscando sempre o melhor ângulo e a melhor história. Quanto mais violento, melhor.
Gyllenhaal aparece quase irreconhecível, o rosto magro e as costas arqueadas. Seu personagem fala como um androide nascido dos piores pesadelos de Isaac Asimov: uma máquina cuspidora de regras de comportamento, sem um pingo de sensibilidade para relações humanas e com uma ponta bastante afiada de cinismo.
Bloom começa como um ladrão de cercas e fios, mas sua ambição o faz procurar um trabalho formal. Eventualmente, ele encontra sua oportunidade entre os cinegrafistas freelancers, que acompanham a rotina noturna da polícia para vender coberturas de acidentes e crimes para telejornais. Encontra, também, uma editora suficientemente sensacionalista que se interessa por seu material.
Essa editora, interpretada por René Russo, centraliza as questões éticas do filme. Qual é a função de seu jornal, afinal? Mostrar ao público o que ele precisa saber – investigando fatos e alertando para perigos reais – ou mostrar o que ele quer ver, num voyeurismo macabro que alavanca a audiência a cada mancha de sangue?
Bloom joga seu jogo, sem hesitar em passar por cima da autoridade da polícia ou interferir nas cenas dos crimes para conseguir suas imagens. Seu parceiro, Rick (Riz Ahmed) não concorda com os métodos, mas tem pouco espaço para negociar e é facilmente manipulado pelas chantagens do chefe. No fundo, ele sabe que é questão de tempo até que se torne a próxima carniça.
“O Abutre” é um filme sombrio e crescente, que envolve o espectador pouco a pouco, mostrando um protagonista gélido, mas irresistível. Por mais insensível que Lou Bloom seja, afinal, queremos saber até onde ele pode ir, e como chegará lá. E ele chega com estilo.
Assista se você:
- Está procurando um bom suspense
- É fã de Jake Gyllenhaal e quer ver uma atuação surpreendente
- Gosta de filmes sombrios com personagens perturbados
Não assista se você:
- Procura um filme de ação
- Não quer ver um filme muito sinistro
- Não quer ver cenas de violência
Por Juliana Varella
Atualizado em 3 Fev 2015.