Você pode nunca ter ouvido falar de Jean-Pierre Jeunet, ou de “Uma Viagem Extraordinária”, seu filme mais recente. Mas conhece “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (ou “Amélie”, para os íntimos). O filme fez tanto sucesso no Brasil que uma multidão de estudantes de diferentes faculdades se reuniu na tarde desta terça-feira, 8 de abril, no auditório da FAAP, para conhecer seu criador.
Os jovens assistiram ao novo longa, aplaudiram efusivamente e metralharam o cineasta com perguntas sobre criação, arte e cinema. Pareciam insaciáveis, como notou o diretor, simpático e cuidadoso com as palavras – não queria podar a criatividade daqueles aspirantes a cineastas e parecia repudiar a ideia de ser copiado por eles.
“Liberdade é a palavra mais importante para mim no cinema”, declarou. E não é da boca para fora: Jeunet sempre teve direito ao corte final de seus filmes e, quando não teve (no caso de “Alien – A Ressurreição”), garantiu que o resultado não fosse muito distante disso.
Jeunet não é o único. Em diversos momentos, o francês cita Tim Burton como um criador de origem e processos semelhantes – um diretor americano que também conseguiu ter a última palavra na maioria de seus trabalhos. “É preciso saber dirigir a fotografia, o som, todos os elementos do filme. Há quem deixe esses trabalhos para outros profissionais mais especializados, mas seus filmes não têm estilo. Tim Burton, por exemplo, tem estilo, porque sempre tem o filme inteiro na cabeça”.
Os dois têm mesmo muito em comum: ambos começaram em estúdios de animação (Burton na Disney e Jeunet na Cinémation) e, hoje, têm seus filmes (com atores) reconhecidos pelo visual. “Sinto-me como um pintor, porque venho da animação. Como [o diretor Akira] Kurosawa, acho que cada quadro do filme deveria ser bonito o suficiente para ser pendurado na parede”, afirma, categórico.
Sobre o cinema brasileiro, Jean-Pierre diz conhecer pouco, mas admira “Cidade de Deus” e “Ilha das Flores”. “Filmes assim jamais teriam sido feitos sem liberdade do diretor”, explica. Apesar disso, o que lhe atraiu foram os truques de câmera, a cor e a narrativa alinear, não os temas realistas. “Tenho horror ao realismo”, dispara. “Não me interesso pelo cinema que olha para a janela e filma o que está ali”.
Jeunet não poupou críticas a Hollywood (com seus roteiros padronizados, guiados por “gurus” como Robert McKee, e suas trilhas sonoras apelativas, “feitas para chorar”); aos críticos franceses (“eles não gostam de fantasia e cor”); e às exigências cada vez mais sufocantes dos grandes estúdios. “Eles não querem arriscar, querem ter certeza de que terão público. Por isso apostam em adaptações, sequências, cinebiografias... Vai ficar cada vez mais difícil trabalhar com liberdade”, analisa.
Por Juliana Varella
Atualizado em 8 Abr 2014.