Woody Allen não falha. Produtivo até o ponto da obsessão, Allen tem entregado pelo menos um filme por ano desde 1982 (e quase isso desde 1969), e 2014 não será diferente. Enquanto o excesso inevitavelmente gera peças dispensáveis, como “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos”, seus acertos são memoráveis e o público está sempre sedento por mais. “Magia ao Luar”, que estreia no dia 28 de agosto, tem tudo para ser mais um marco positivo nessa extensa filmografia.
Como se fosse preciso afirmar em nomes o quão adorável o novo romance pretende ser, Emma Stone e Colin Firth foram escalados para viver o casal principal. Ela é uma vidente com um passado humilde; ele, um mágico determinado a desmascará-la.
O formato não tem nada de novo: os dois brigam como gato-e-rato, se apaixonam, brigam de novo e eventualmente fazem as pazes, como em qualquer comédia romântica. Mas este é um Woody Allen e, por mais água-com-açúcar que “Magia ao Luar” seja, suas marcas registradas estão lá: os diálogos inteligentes e a reflexão sobre o homem e seus comportamentos – menos dura, desta vez, e mais otimista do que esperaríamos de Allen.
Firth é Stanley, um enganador profissional que se veste de chinês para apresentar seus truques a audiências do mundo inteiro, com o nome artístico de Wei Ling Soo. Fora dos palcos, ele é um ateu convicto, cuja personalidade arrogante não ajuda a fazer muitos amigos.
Stanley é chamado pelo amigo Howard (Simon McBurney) para conhecer a suposta médium Sophie (Stone), que está ajudando uma mulher rica a se comunicar com o marido perdido e, convenientemente, já conquistou o coração do filho.
Por mais que se esforce, porém, Stanley não consegue descobrir como Sophie faz suas adivinhações e, pouco a pouco, deixa-se encantar por sua magia. Racionalmente, ele não acredita em espíritos, mas a ideia o faz se sentir bem e ver o mundo com olhos menos críticos.
A ideia de Allen neste filme é justamente essa: longe de querer provar o espiritismo ou o ateísmo (ele mesmo é ateu), o diretor/roteirista reflete sobre o sentido da “magia” que dá nome à obra – que pode existir na forma de religião, de espetáculo ou de simples sentimentos, como a felicidade ou o amor irracional.
Além do roteiro esperto e das atuações carismáticas, “Magia ao Luar” ganha o espectador na trilha sonora. Como não poderia deixar de ser, o jazz (tocado com o som “sujo” das vitrolas) tem espaço cativo em qualquer filme de Allen, mas, aqui, o clássico também rouba a cena. A seleção foge pouco do óbvio, com Stravinski, Beethoven e Ravel representados por suas peças mais famosas, mas a montagem faz um trabalho excepcional com a sincronia (destaque para uma cena em que Stanley se revira na cama ao som da Nona Sinfonia).
Doce e neurótico, “Magia ao Luar” é tudo o que se espera de Woody Allen, um ano após seu angustiado “Blue Jasmine”: um filme mais leve e mais bem humorado, para agradar ao público e não à academia. É um refresco bem vindo, para românticos e para qualquer um que procure uma noite um pouco mais mágica no cinema.
Assista se você:
- É fã de Woody Allen
- Quer ver um filme leve e romântico
- Quer ver um ótimo elenco em ação
Não assista se você:
- Não gosta dos filmes de Woody Allen
- Procura um filme mais sério ou pesado
- Não gosta de filmes românticos
Por Juliana Varella
Atualizado em 30 Ago 2014.