“Vidas ao Vento” é um filme sobre um homem chamado Jiro Horikoshi. É, também, um filme sobre Hayao Miyazaki, seu criador e um dos maiores artistas na história do cinema de animação. O diretor de “Meu Vizinho Totoro” e “A Viagem de Chihiro” anunciou que se aposenta das telonas após este último e polêmico trabalho.
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Como em seus outros filmes, “Vidas ao Vento” é uma animação para adultos – desta vez, sem o conteúdo lúdico que também agradaria às crianças. O longa, que desagradou aos críticos americanos por razões óbvias, narra a vida do engenheiro que desenvolveu aviões como o Mitsubishi A6M Zero (ou apenas Zero) – o mesmo que bombardeou Pearl Harbor durante a Segunda Guerra Mundial.
A trajetória de Horikoshi, entretanto, parece mascarar uma auto-biografia dolorosa do diretor. Nascido em 1941, o cineasta japonês cresceu durante a guerra e viu de perto o trabalho da aeronáutica – já que sua família era dona de uma fábrica que fornecia peças ao Zero. Miyazaki também viu sua mãe sofrer lentamente com tuberculose, exatamente como uma personagem de “Vidas ao Vento”.
O fato de ter tido uma vida abastada em meio à guerra (e, de certa forma, graças a ela) não salvou a criança de ver o céu morbidamente iluminado durante os bombardeios. Essa imagem, gravada como um trauma, é reinterpretada de tempos em tempos, como no belíssimo “O Castelo Animado” e, agora, de forma mais literal, em “Vidas ao Vento”.
Essas experiências pessoais deixaram no diretor uma visão dúbia da guerra – assustadora, mas ao mesmo tempo bela, de uma beleza imperdoável. Isso se vê em suas animações, que frequentemente trazem personagens envolvidos com o mal, mas com características puras ou ingênuas.
Em “Vidas”, a pureza está na criança que deseja voar; no encontro delicado entre dois amantes que se comunicam pelo vento; no sonho compartilhado por dois gênios – estes dois, conscientes do mal que estão prestes a causar.
O longa explora pequenas imagens poéticas para dar leveza a uma história que, desde o princípio, é dura e fria. Jiro Horikoshi, afinal, é um protagonista difícil de gostar: ele é tão apaixonado por aviões que consegue fechar os olhos para as bombas que eles carregam. Mesmo fiel à esposa e companheiro, não consegue tirar os olhos do céu (ou da régua de cálculo). É um gênio solitário como tantos outros.
Como Horikoshi, que luta por sua arte sem remorsos, Miyazaki não se esforça para agradar ao público ou à crítica. “Vidas ao Vento”, cansativo e difícil, deixará muitos fãs decepcionados, saudosos dos tempos em que a fantasia coloria seus quadros desenhados à mão. Mas o artista também precisa respirar – e este é um trabalho tão sincero e profundo que só poderia ser, mesmo, a despedida de um mestre.
Assista se você:
- É fã incondicional de Miyazaki (e quer ver seu último filme)
- Quer admirar uma animação desenhada à mão
- Gosta de aviões
Não assista se você:
- Espera ver uma animação infantil ou cheia de fantasia
- Não se interessa por engenharia ou aviões
- Procura um filme para levar as crianças
Por Juliana Varella
Atualizado em 21 Fev 2014.