A julgar pela última onda de filmes gregos, a vida das mulheres na Grécia não parece estar nada fácil. Recentemente, estreou por aqui o pesado “Miss Violence”, que, mesmo com um elenco majoritariamente feminino, mostrava a concentração de poder nas mãos de um único homem. Agora, a Mostra Internacional de Cinema traz a São Paulo “O Retorno de Antígona”, um filme sobre uma mulher que desafia a impunidade numa sociedade violenta.
O nome da personagem vem da Antígona de Sófocles, filha de Édipo e Jocasta na tragédia escrita pelo filósofo. Depois de acompanhar o pai no exílio, ela teria voltado e encontrado os irmãos duelando pelo trono.
Depois de ambos morrerem em vão, ela mergulha num conflito ético insolúvel: pelas leis do Estado, um traidor não poderia ser enterrado (e um dos irmãos fora condenado como tal); mas, pelos costumes da família, Antígona tem a obrigação de fazê-lo, mesmo que isso signifique a própria morte. Sua missão, portanto, é descobrir o valor que prevalece e fazer a coisa certa.
O título original do filme (“Na Kathese Kai Na Koitas”) está mais próximo da tradução em inglês (“Standing aside, watching”), que sugere o foco nos personagens silenciosos, aqueles moradores conformados que “apenas observam” e que, até o final do filme, serão obrigados a tomarem providências. Já a versão em português desloca a atenção para a protagonista – essa figura mitológica que quer interferir em tudo o que está errado à sua volta. Uma escolha feminista, talvez?
Pois não faltam erros para serem consertados naquela cidadezinha, onde Antígona (Marina Symeou) cresceu e para onde volta quando a crise torna impossível pagar os aluguéis em Atenas. Lá, ela reencontra uma amiga de infância e um antigo namorado, mas não vê qualquer vestígio da estabilidade, mesmo que pobre, de outros tempos.
Vizinhos estão se unindo para pagar por mais segurança, ameaçando uns aos outros no processo. Mulheres desesperadas estão roubando de supermercados. Em qualquer lugar que vá, Antígona ouve o conselho para se proteger. A cidade está perigosa.
Mas não é a violência aleatória de ladrões que a preocupa, e sim outra muito mais próxima. Sua melhor amiga está saindo com um homem violento, que tenta ensinar o pupilo que “ele é que deve foder a mulher, não o contrário”. Para piorar, Antígona percebe que esse pupilo é seu namorado, e não está nem um pouco disposta a aceitar uma relação desse tipo.
“O Retorno de Antígona” é dirigido por Giorgos Servetas e não tem previsão de estreia no Brasil.
Por Juliana Varella
Atualizado em 24 Out 2014.