“Vazio Coração” não é exatamente um blockbuster: o filme, dirigido pelo jornalista goiano Alberto Araújo, foi financiado com recursos locais e tem traços claros de um longa-metragem de estreia. Mas o drama, sobre um pai e um filho em conflito, teve a sorte de encontrar um “padrinho” com o peso da Globo e muita vontade de ajudar.
+ Leia a crítica de "Vazio Coração"
+ Confira salas e horários para assistir ao filme
+ Leia a entrevista com o diretor Alberto Araújo
Murilo Rosa, protagonista e co-produtor de “Vazio Coração”, conversou com o Guia da Semana e contou por que escolheu o roteiro de Araújo, como se preparou para o papel e, principalmente, como foi soltar a voz para o filme e para o CD que será lançado.
Leia a entrevista na íntegra:
Como esse roteiro chegou a você e por que você o aceitou?
Eu já tinha feito um filme com Othon Bastos chamado “Orquestra dos Meninos” e estava fazendo uma novela com ele, quando ele comentou sobre esse roteiro que tinha recebido e que ia fazer, de um diretor de Brasília. Eu tenho família em Goiânia e a identificação já começou aí. Depois vi que o filme era uma homenagem à família, que esse personagem era alguém que não desiste da família, e achei que era uma oportunidade de oferecer algo diferente para o público. Também me chamou a atenção a possibilidade de cantar, sem truques.
Ter vivido um músico antes em Orquestra dos Meninos te ajudou na preparação para este papel?
“Orquestra” tem um universo parecido, mas não cheguei a buscar inspiração nele. Meu processo foi ir atrás de um sentimento, de entender “como é esse cara cantando?” ou “por que ele canta assim?”. Para isso, tive que descobrir, também, como era o meu jeito de cantar, senão o resultado não seria verdadeiro. Me deram um leque de músicas, eu escolhi algumas e trabalhei sobre elas, até mexendo na melodia e tudo. A ideia era que a música fosse uma extensão do que esse personagem pensa.
Você gostou da experiência de trabalhar com música? Pretende continuar?
Gostei muito e digamos que agora abri essa portinha. Vamos lançar um CD com a Som Livre, com 9 faixas, no dia 24, mas não existe essa de “Murilo virou cantor”, isso não. Não pretendo ir cantar no The Voice! Existe eu poder fazer outros trabalhos ligados à música, que faz parte do meu universo agora.
Você escolheu o roteiro pensando nisso?
Não, mas a música foi um ponto muito forte. Quando eu fui viajar pelo interior de Portugal até a Espanha com meu pai, num carro alugado, fomos ouvindo um CD com as músicas do filme. Então olhei para o meu pai e ele estava se emocionando... Isso me tocou. Em outro momento, minhas agendas estavam batendo e eu quase desisti do filme, então o Alberto Araújo mandou a música Pequeno Astronauta. Não teve mais jeito.
Como você se preparou para viver esse drama de pai e filho?
Eu vivo uma relação com meu pai contrária do que Hugo Kari vive com o pai dele e não me inspirei em ninguém real. Eu fui acreditando nesse personagem, esse músico muito bem sucedido, que está num momento muito especial com a esposa, que tem carinho de todo o mundo, mas que tem um vazio por essa questão familiar. Mas esse é um cara que não desiste da família, e isso tem uma semelhança comigo. Por exemplo, há uma cena em que eu saio do carro e abraço a Bete Mendes. Aquele foi um abraço tão verdadeiro que senti como se estivesse abraçando a minha tia. Acho que o filme tem um sentimento que combina com o Brasil, com o interior... Tem uma pureza.
Você já trabalhou com cinema, TV, teatro... Como você compara essas experiências?
Essas experiências são todas fundamentais. Todas fazem parte do que é ser ator. Sempre que eu não estou fazendo novela, eu corro para o cinema, porque é onde você pode entender o roteiro do começo ao fim e trabalhar de forma mais consistente. Já o teatro hoje é quase uma manifestação da minha alma artística – é onde você mais mostra o que é como artista, é onde fica diante da plateia e de Baco. Na TV, é uma coisa imediata, de primeira leitura – quero ver o Anthony Hopkins chegar na Globo, fazer uma novela de 200 capítulos e decorar 30 cenas por dia. E conseguir fazer isso com um padrão de qualidade.
O cinema nacional está num momento muito bom, há muitos filmes sendo lançados, mas o maior sucesso ainda é com as comédias. Você acha que há uma desconfiança do brasileiro com o drama nacional?
Não acho que é do brasileiro, o público está aceitando bem os filmes. Acho que o próprio mercado aproveita que um tema está dando certo e acaba investindo só naquilo – só em favela, só em comédia... Acabam deixando de lado outras possibilidades. É preciso formar o público também, prepará-lo para receber todo o tipo de filme, das comédias aos filmes dramáticos. Mas acho que as coisas estão caminhando bem.
Quais são seus próximos projetos?
Na Globo, no dia 8 de dezembro vai passar o programa Sintonize, que eu apresentei e que é o início dos especiais de final de ano. Além disso, estou abrindo uma produtora chamada Mar Produções. No ano que vem devo fazer uma comédia e também tenho planos pessoais ligados à família. Há muita coisa acontecendo.
Você co-produziu Vazio Coração. Isso tem a ver com a abertura da sua produtora?
Tem. Eu achava que o tema era tão interessante e tão necessário, então achei que podia ajudar a viabilizar isso. Então a gente formou uma equipe muito boa: a gente tem a Califórnia Filmes distribuindo, a Globo Filmes apoiando, o Telecine, o Canal Brasil e a Som Livre lançando o CD. Então o filme passa a existir. Agora, já tenho nove projetos em cinema encaminhados: duas comédias para o ano que vem, uma dirigida por Pedro Vasconcellos, mas não posso falar muito ainda.
Por Juliana Varella
Atualizado em 23 Nov 2013.