Às vezes, temos a sensação de que filmes com super-heróis são todos iguais: têm sequências de ação caríssimas, algumas piadas internas, uma pitada de romance e um antagonista bem parecido com o herói. Mas há alguns títulos que marcam mais: escolhem os atores certos, a música certa, constroem seus personagens de forma que passamos a conhecê-los de perto, como velhos amigos.
O Espetacular Homem-Aranha 2 não foi produzido pela Marvel – pertence à Sony – mas é, provavelmente, a adaptação mais fiel aos quadrinhos que se encontra nos cinemas hoje em dia. Peter Parker, muito bem representado por Andrew Garfield (sem pinta de galã, mas carismático), é aquele garoto levado das revistas: adolescente, sarcástico, levemente irresponsável por impulso, mas que sabe que precisa levar à risca os conselhos do seu tio Ben: “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”.
Emma Stone volta para o segundo filme ainda mais cativante. Namorada de Garfield na vida real, ela alia a beleza exigida nesse tipo de filme a uma personalidade forte, mostrando uma Gwen Stacy inteligente (mais do que Parker, como gosta de frisar), que ajuda o herói em momentos-chave sem deixar de ser a “mocinha em perigo”.
Nem é preciso dizer que Jamie Foxx foi uma aquisição e tanto para o elenco: o ator de Django Livre e Ray faz do vilão Electro uma caricatura, incorporando um João-ninguém que se encanta, se ilude e busca vingança, cheio de humanidade em sua loucura solitária.
Electro é apenas um dos vilões apresentados no filme, que quase peca pelo excesso. Além dele, vemos a formação de Rhino (Paul Giamatti), temos um primeiro contato com a Gata Negra (só para iniciados) e conhecemos o Duende Verde – de novo.
No meio dessa profusão de vilões, os roteiristas preferiram sacrificar o personagem de Norman Osborn e concentrar todo o conflito no filho, Harry. A escolha não poderia ter sido mais acertada, já que o jovem ator que o interpreta é Dane DeHaan, uma das melhores surpresas que Hollywood revelou em 2013 e que ainda vai dar muito o que falar.
A estrutura do roteiro é bastante semelhante à do primeiro filme – o vilão, já conhecido por Peter, se desenvolve paralelamente ao herói, e ambos lidam com seus problemas pessoais até que as linhas se encontram no confronto final. Enquanto tudo acontece, alguns segredos da Oscorp e do pai de Peter vão se revelando para nos preparar para os próximos filmes.
Uma novidade é o uso mais intenso da câmera lenta, que, empregada com moderação, permite ao espectador explorar com detalhes algumas cenas de ação. Repare, também, na leveza das sequências aéreas com o Homem-Aranha, que fazem um contraponto ao caos da cidade (ou das explosões) abaixo dele. Há muito design digital, é claro, e muitos efeitos de todos os tipos – mas este é um filme de super-herói, e a tecnologia bem feita só contribui para aumentar a fantasia.
A trilha sonora abusa do indie pop e do rock para situar o público num universo juvenil – a vantagem é que fugimos um pouco daquele padrão orquestral que costuma acompanhar o gênero, tornando os filmes de ação um tanto parecidos.
O Espetacular Homem-Aranha 2 não decepciona quem gostou do primeiro filme e continua mostrando que é possível tornar uma história simples e cheia de ação um pouco mais humana, dando a atenção devida a todos os personagens – protagonista, antagonistas e coadjuvantes.
O filme deixa ganchos suficientes para continuar a franquia por mais alguns episódios, mas será preciso cuidado para que a meta do estúdio (pelo menos mais duas sequências e dois spin-offs) não transforme a franquia num requentado eterno de teias e roupas vermelhas e azuis.
Assista se você:
- Gostou do primeiro filme da série
- Gosta de filmes com super-heróis
- Quer ver um filme de ação com personagens menos superficiais
Não assista se você:
- Não gosta de filmes com super-heróis
- Prefere Tobey Maguire como o Homem-Aranha
- Procura um filme com pouca ação
Por Juliana Varella
Atualizado em 30 Abr 2014.