Philip Seymour Hoffman deixou uma série de trabalhos inacabados, outros completos, ainda para serem vistos pelo público. Entre eles, seu espião em “O Homem Mais Procurado” provavelmente ficará marcado como um de seus papéis mais profundos e viscerais. A adaptação de Anton Corbijn para o romance de John Le Carré chega aos cinemas em outubro, saciando a sede de quem vinha sentindo falta de um bom suspense policial.
Hoffman é Günther, o chefe de uma organização de espionagem em Hamburgo, subordinada ao governo alemão e responsável por fazer “tudo o que as leis alemãs não permitiriam que a polícia fizesse”. Meios errados, fins bem-intencionados – pelo menos é nisso que ele acredita.
Depois de uma operação mal-sucedida em Beirute, Günther se ocupa agora de investigar um importante filantropo, que usa seus discursos religiosos e pacifistas para arrecadar dinheiro a hospitais, escolas e outras entidades. A suspeita é que ele retire uma parcela para a compra de armamentos para grupos extremistas islâmicos.
A atenção dos espiões é desviada, junto com a da C.I.A. (encarnada na personagem de Robin Wright, Martha), pela chegada de um novo imigrante ilegal a Hamburgo. Ele é Issa Karpov (Grigoriy Dobrygin), um homem meio-muçulmano, meio-russo que guarda um passado traumático e alega ter uma herança a receber.
O longa é impregnado de rancor – pelo 11 de setembro nos EUA, pelos ataques terroristas na Europa, pela xenofobia e a tortura indiscriminada de árabes em resposta. O corte de uma barba pode significar, nesse contexto, a vitória ou a derrota, mas Corbiyn não escolhe lados e constrói um quebra-cabeças ambíguo até os minutos finais, deixando para nós a decisão sobre o certo e o errado, o vitorioso e o derrotado.
Além de Günther e Martha, dois outros personagens se envolvem diretamente com o misterioso imigrante. Annabelle (Rachel McAdams) é uma advogada engajada em direitos humanos e Thomas Brue (Willem Dafoe) é o banqueiro que guarda a fortuna dos Karpov.
Há uma dúvida latente nos olhos melancólicos do espião, à medida que visita os papéis de herói e vilão: quão diferente é sua lógica daquela dos próprios terroristas – se ambos arriscam inocentes para atingirem um alvo maior? Tudo para que o mundo seja um lugar mais seguro... Pelo menos é nisso que ele tenta acreditar.
Assista se você:
- Gosta de filmes de investigação e espionagem
- Quer ver um filme que dialoga bem com conflitos atuais
- Quer conferir uma atuação excepcional de Philip Seymour Hoffman
Não assista se você:
- Não gosta de filmes de espionagem
- Não gosta de filmes com conteúdo político ou religioso
- Procura um filme fácil para o fim de semana
Por Juliana Varella
Atualizado em 26 Set 2014.