O tribunal parece ser um dos ambientes favoritos dos roteiristas – ao lado da redação, da sala de aula e da sala de jantar. É ali, entre cadeiras de madeira maciça e ternos bem cortados, que se faz a justiça, com base nos pequenos detalhes revelados pouco a pouco em depoimentos, pressionados por advogados e suas línguas afiadas. Assistindo a isso, um corpo de jurados anônimos, sensibilizados no calor do momento, decidem o futuro de um único réu: culpado ou inocente?
Em “O Juiz”, novo drama de David Dobkin (“Penetras Bons de Bico”) escrito em parceria com Nick Schenk (“Gran Torino”), uma inversão de papéis apimenta o julgamento: o juiz se torna réu; o réu, juiz (pelo menos metaforicamente).
Robert Downey Jr. é o coração desta história, que, mais do que investigar um assassinato, explora os rancores mal resolvidos entre um pai e um filho. Downey Jr. é o filho, Henry, um advogado especialista em defender criminosos, encontrando todas as brechas possíveis na lei mesmo que seus clientes sejam culpados.
Numa única manhã, Henry perde a esposa e a mãe – a primeira, para outro homem; a segunda, para um coágulo no coração. Hesitante, o homem da cidade grande vai para sua cidadezinha natal, menos receoso pela imagem da mãe morta do que pela expectativa do reencontro com o pai, Joseph Palmer (Robert Duvall).
O sr. Palmer é juiz há mais de 40 anos e, na visão de Henry, costuma mostrar mais compaixão pelos réus desconhecidos do que por seu próprio filho. Mas Henry não é o único, e sim o do meio - o mais rebelde, mais cobrado e mais bem sucedido. O mais velho, Glen (Vincent D’Onofrio) tinha tudo para ser um grande atleta, até machucar o punho. O mais novo, Dale (Jeremy Strong), tem uma deficiência intelectual e depende de sua câmera para sentir-se seguro. Entre os três, há aquela cumplicidade que só irmãos compreendem.
Os sentimentos masculinos têm peso especial em “O Juiz”, centrado numa família onde só os homens restaram e as mulheres se resumem a crianças delicadas ou parceiras de cama. Não que este seja um filme sexista, mas a forma como os personagens lidam com o orgulho, prejudicando a si mesmos e uns aos outros em cada palavra não dita, só encontra seu sentido pleno na interpretação de um homem – criado para ser infalível.
Os conflitos de Henry se multiplicam quando Joseph é acusado de homicídio e, mesmo sabendo do talento do filho, recusa sua ajuda. Se o pai é o clássico patriarca rabugento, o filho surpreende com uma vastidão de sentimentos que vão da auto-confiança ao medo paralisante e do amor incondicional ao ódio, levando à inevitável transformação e à redenção. Toda essa energia é canalisada no tribunal, onde as melhores sequências acontecem, para deleite do público.
Vera Farmiga e Billy Bob Thornton reforçam o elenco, neste filme que deve sua força especialmente aos atores. “O Juiz” estreia no Brasil no dia 16 de outubro.
Assista se você:
- Gosta de filmes sobre julgamentos
- Gosta de filmes sobre pais e filhos
- Quer ver uma atuação surpreendente de Robert Downey Jr.
Não assista se você:
- Não gosta de filmes com tribunais
- Não gosta de dramas familiares
- Está cansado de filmes sobre homens orgulhosos ou rabugentos
Por Juliana Varella
Atualizado em 8 Out 2014.